O líder espiritual tibetano Dalai Lama comemorou seu aniversário de 90 anos neste domingo (6) com uma celebração grandiosa no templo onde vive, em Dharamshala, no norte da Índia. A festa contou com bolo de nove andares, apresentações de dança, rituais encenados, homenagens de autoridades e a presença do ator de Hollywood Richard Gere. O contraste entre o luxo do evento e os ensinamentos de desapego e moderação, centrais no budismo tibetano, chamou atenção.
Vestido com seu tradicional manto amarelo e bordô, o Dalai Lama chegou sob aplausos de uma multidão de monges e devotos. A cena reforçou sua imagem de líder espiritual, mas o cenário da comemoração destoava das ideias que ele costuma defender em discursos públicos. A presença de celebridades, o aparato festivo e o banquete chamaram mais atenção que a mensagem de renúncia aos excessos que sempre marcou sua trajetória.
Richard Gere, admirador do Dalai Lama há décadas, subiu ao palco e afirmou que ele é “o bípede mais extraordinário que já caminhou neste planeta”. As palavras, carregadas de adoração, foram ditas diante de um palco decorado, com bolo monumental e homenagens solenes.
O Dalai Lama já disse que pretende reencarnar e que espera viver até os 130 anos. Ele também provocou o governo da China ao afirmar que Pequim não tem autoridade para interferir na escolha de seu sucessor. Essa declaração política, somada à celebração luxuosa, dá sinais de que sua figura tem se distanciado do monge reservado que atraiu admiradores por sua humildade e por críticas à ganância.
Os rituais budistas preveem contenção, foco no interior e distanciamento das vaidades. Não há pecado em celebrar uma vida longa e influente, mas a pompa do evento pode ser vista como um ruído na mensagem. O bolo de nove andares, as coreografias cuidadosamente ensaiadas e a presença de estrelas internacionais levantam dúvidas sobre o quanto os ritos seguem a filosofia original ou servem a um culto de personalidade.