MAB lança campanha para denunciar descaso da Vale com atingidos por crimes em Minas. Por Juca Guimarães

Atualizado em 16 de outubro de 2019 às 9:15
Um dos filhos de Iolanda ficou com a imunidade comprometida após ter contato com a lama, teve que ficar internado por causa de uma pneumonia e tem prolemas respiratórios até hoje (Foto: Juca Guimarães)

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR JUCA GUIMARÃES

Os brasileiros que foram atingidos pelos crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estão na luta para denunciar o descaso e a impunidade da mineradora Vale, empresa responsável pelos dois crimes.

Em Mariana, foram 19 mortes e em Brumadinho morreram 249 pessoas, além de outros 21 desaparecidos. Há, porém, milhares de pessoas atingidas que não têm seu direito de reparação reconhecido pela mineradora.

Buscando justiça, o MAB lançou a jornada de luta “A Vale Destrói, o povo constrói”, com programação de outubro de 2019 a março de 2020.  O evento ocorreu na sede do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na capital paulista, nesta terça-feira (15).

As atividades envolvem encontros de atingidos, uma audiência pública, uma feira estadual da saúde dos atingidos, uma marcha até Brumadinho e um festival cultural.

Como parte da iniciativa, em regime de mutirão, o Movimento vai construir uma casa para simbolizar a luta dos moradores atingidos que ainda aguardam a reparação da Vale e que, muitas vezes, nem entraram na lista dos atingidos.

A casa a ser construída é a da faxineira Iolanda Gouveia, 29 anos, que tem três filhos com idade entre seis anos e 12 anos – e foi sorteada para receber a nova moradia. Ela e o marido que é pescador e pedreiro moram perto do rio Doce e não podem nem mais comer o peixe do rio. A família luta há quatro anos para ser reconhecida como atingida de Mariana.

“Essa casa vai ser construída para mostrar que a Vale há quatro anos não fez nada. Tiraram as pessoas das casas não reformaram as casas. Tem casa que vai ter que ser derrubada depois de tanto tempo fechada”, explica.

Um dos filhos de Iolanda ficou com a imunidade comprometida após ter contato com a lama, teve que ficar internado por causa de uma pneumonia e tem prolemas respiratórios até hoje (Foto: Juca Guimarães)

A casa nova da faxineira será na região rural da cidade, longe da área contaminada pelos caminhões que passam pela rua com a lama contaminada.

Em Barra Longa, a Vale deixou um rastro de desemprego e tristeza. “O aluguel era de 200 a 300 reais. Agora, quando tem uma casa pra alugar é 2.000. Muita gente, muitos amigos, tiveram que ir embora”, relata.

Durante este período, de acordo com o MAB, a Vale, por meio da Fundação Renova, gastou R$ 5 bilhões com ações de reparação, porém não construiu uma única casa.

O ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannucci elogiou a iniciativa do MAB. “É importante e muito simbólico a construção de uma casa. Ter um lugar para morar e poder recomeçar a vida”, afirmou o ex-ministro do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma das participantes do evento em São Paulo, a funcionária pública Joelisia Feitosa, 56 anos, mora em Joatuba, a 40 km de Brumadinho. Quase um ano depois, ela ainda sente no cotidiano os efeitos do crime ambiental e o descaso da Vale.

“As pessoas estão ficando doentes o tempo todo. Só quem tem dinheiro pode comprar água mineral. O restante tem que usar a água que está contaminada. Daí fica com dor de barriga, na cabeça, em tudo”, conta.

Enquanto a população passa por necessidades, a Vale vai empurrando como pode para frente as ações de reparação. “Os mortos de Mariana e de Brumadinho falam. Eles falam por meio dos protestos dessa jornada e das denúncias que não podem deixar de ser feitas”, disse o ex-ministro.

Jornada de lutas: A Vale destrói, o povo constrói

Confira a programação anunciada pelo MAB:

Outubro – Início da construção da casa (Barra Longa/MG)

25 e 26 de outubro – Encontro das mulheres atingidas por barragens (Belo Horizonte/MG)

3 a 5 de novembro – Encontro dos Atingidos (Mariana/MG)

5 de novembro – Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos (Brasília/DF)

15 de novembro – Feira estadual da saúde dos atingidos (Baixo Guandu/ES)

20 a 20 de janeiro – Marcha dos atingidos (de Poméu/MG a Brumadinho/MG)

21 e 22 de março – Festival cultural da água (Belo Horizonte/MG)

Fundação Renova

Contatada pelo Brasil de Fato, a Fundação Renova informou uma série de ações de reparação:

“A Fundação Renova é a entidade responsável pela mobilização e execução da reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão. Até agosto, foram destinados R$ 6,68 bilhões para as ações integradas de recuperação e compensação socioambiental e socioeconômica da bacia do rio Doce. Cerca de R$ 1,84 bilhão foram pagos em indenizações e auxílios financeiros emergenciais para cerca de 320 mil pessoas. Mais de 1.400 obras foram executadas ao longo de todo o território atingido.”