O Santander conseguiu a proeza de ficar mal com todo mundo. Desagradou os conservadores ao patrocinar e apoiar a mostra Queermuseu e depois desagradou a todos os demais por ter voltado atrás. Um primor em termos de marketing.
Conforme o tempo passa, vai-se descobrindo quais entidades apoiaram o cancelamento da exposição. O Mackenzie foi uma delas.
Uma carta assinada pelo diretor-presidente, José Inácio Ramos, enviada à instituição financeira, deixa claro seu ‘repúdio’:
“Durante vários anos o Instituto Presbiteriano Mackenzie e sua mantida Universidade Presbiteriana Mackenzie, têm desenvolvido diversos projetos conjuntos com o Santander, inclusive com a manutenção de um posto de atendimento no edifício (…) Considerando os princípios e valores que abraçamos, firmados em nossa identidade confessional cristã, não poderíamos silenciar nem deixar de expressar a nossa perplexidade com a notícia de que este prestigiado e internacionalmente conhecido Banco financiou e abriu ao público uma exposição que promoveu valores totalmente antagônicos àqueles que asseguram a preservação de uma sociedade honrada e ordeira (…) Promoveu abertamente a pedofilia, zoofilia, prostituição infantil, e outros tantos relacionamentos sexuais que fogem aos mais básicos princípios de moralidade como modos normais de vida. (…) Em algum momento o Santander deve escolher: qual a comunidade de clientes que o Banco almeja e com a qual deseja se relacionar? Com aquela que abraça valores judaico-cristãos que se constituem a espinha dorsal de nossa sociedade, ou com os cantos obscuros que militam contra tudo o que exala moral, propriedade, respeito, recato, progresso (…) Fica nossa palavra de total repúdio a iniciativas como essa que podem marcar negativamente os nossos relacionamentos futuros.”
Com mensalidades dos cursos em patamares francamente excludentes, é obvio que o Mackenzie é um cliente com poder de fogo junto ao banco devido a seu faturamento milionário.
Como pode uma universidade em pleno ano de 2017 posicionar-se como se nos tempos das masmorras espanholas na perseguição a artistas como Goya? Isso acaba replicado em boa parte de seus alunos, como não poderia deixar de ser.
Há mais de dois anos o DCM vem apontando os casos de manifestação de ódio racial e homofobia, com pichações como “Lugar de negro não é no Mackenzie, é no presídio” ou “O Mack não deveria aceitar negros nem nordestinos” nas dependências da faculdade.
No início deste ano, novamente frases como “Gay não reproduz” ou “Gay não é gente. Fora do Mackenzie” foram rabiscadas por seus alunos que desejam a tal ‘sociedade honrada e ordeira’. O adicional atual é que hoje em dia elas vêm acompanhadas por uma inscrição de encerramento: ‘Bolsonaro 2018’.
Em março do ano passado estive em um ato em frente à universidade. Como nem todos os alunos do Mackenzie se enquadram no perfil wasp paulistano, alguns estudantes de Direito haviam solicitado o auditório para receber convidados e lideranças sociais para um debate de ideias e pronunciamentos.
Estávamos nas vésperas do impeachment. A instituição negou e o ato precisou ocorrer na rua, debaixo de chuva. Em menos de uma hora, grupos de alunos adeptos da moral e dos bons costumes cercaram o ato.
Jogaram bombas, garrafas, provocaram diversos conflitos. Queriam uma reedição da batalha da Maria Antônia. Um deles postou-se no meio dos manifestantes e desafiava: “Vou ficar aqui, eu pago a faculdade, a faculdade é minha”. Estava na rua, mas deixava clara sua posição em relação à política de cotas.
Sempre que manifestações preconceituosas acontecem no Mackenzie, a direção da universidade solta comunicados oficiais nos quais afiram ter sido ‘surpreendida por manifestações anônimas, de caráter discriminatório’ e ainda ‘que não faz, não apoia e condena quaisquer tipos de discriminação, repudia violência física e verbal e seguirá defendendo seus princípios de respeito e amor ao próximo’.
‘Não concorda’, ‘condena’, mas faz exatamente o mesmo.