O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Nicolás Maduro, presidente reeleito da Venezuela, não é um “problema” para o Brasil. As declarações, feitas em entrevista à RedeTV!, que foi transmitida neste domingo (10), marcam o fim de um período em que o petista se manteve em silêncio sobre o tema.
Lula destacou que não deveria se “preocupar” com a situação interna da Venezuela, defendendo que Maduro é um “problema” exclusivo do povo venezuelano.
“Eu aprendi que a gente tem que ter muito cuidado quando a gente vai tratar de outros países e de outros presidentes. Eu acho que o Maduro é um problema da Venezuela, não é um problema do Brasil”, disse o presidente, que havia evitado se pronunciar sobre a relação com o país vizinho desde o início de uma série de ataques do governo venezuelano contra o Brasil.
Em resposta a uma pergunta do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que questionava se não era hora de o Brasil “ignorar” Maduro, Lula enfatizou que o foco deve ser no bem-estar do povo brasileiro.
“Eu quero que a Venezuela viva bem, que eles cuidem do povo com dignidade. Eu vou cuidar do Brasil, o Maduro cuida dele, o povo venezuelano cuida do Maduro, e eu cuido do Brasil. E vamos seguir em frente. Porque também não posso ficar me preocupando. Ora brigar com a Nicarágua, ora brigar com a Venezuela, ora brigar com não sei com quem. Tenho é que tentar brigar para fazer esse país dar certo”, afirmou o presidente.
Sobre a postura do Brasil nas recentes eleições venezuelanas, que foram amplamente contestadas internacionalmente, Lula relembrou a postura do país na época do pleito. A eleição, que foi vista como controversa por diversos países e organizações globais, culminou na reeleição de Maduro.
Em meio aos questionamentos sobre a transparência do processo eleitoral, o governo brasileiro, juntamente com a Colômbia e o México, pediu a divulgação das atas eleitorais e defendeu uma apuração imparcial dos votos. No entanto, como os órgãos venezuelanos não apresentaram os detalhes solicitados, o governo brasileiro não reconheceu a vitória de Maduro.
Ofensiva de Maduro contra o Brasil
Nos últimos meses, as relações entre Brasil e Venezuela passaram por uma série de tensões. O ponto de virada ocorreu em março deste ano, quando o Itamaraty expressou “preocupação” com o andamento do processo eleitoral na Venezuela, após a proibição da candidatura de uma oposição. Esse posicionamento foi considerado “intervencionista” pelo governo venezuelano.
Em julho, Maduro fez uma acusação sem provas, afirmando que as eleições brasileiras não eram auditadas. Essa declaração foi prontamente refutada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após as eleições na Venezuela, que também geraram controvérsias sobre sua legitimidade, o governo brasileiro optou por não reconhecer formalmente a vitória de Maduro.
A relação voltou a ser tensionada em outubro, quando a Venezuela não foi incluída na lista de países convidados a integrar o bloco BRICS, o qual reúne economias emergentes, incluindo o Brasil. O governo venezuelano classificou a exclusão como uma “agressão inexplicável”, com o Brasil sendo acusado de vetar a inclusão da Venezuela e da Nicarágua.
No final de outubro, a polícia venezuelana publicou uma imagem da bandeira brasileira acompanhada da frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”, com uma silhueta que parecia se referir a Lula.
Em resposta, o Itamaraty emitiu uma nota oficial condenando o tom das declarações venezuelanas como “ofensivo”. O regime de Maduro também voltou a criticar o Brasil, acusando o governo brasileiro de realizar uma “agressão descarada e grosseira” contra o presidente venezuelano.