
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo na última quarta-feira (1º), o engenheiro agrônomo Renato Seraphim chamou a atenção para a infiltração de organizações criminosas no agronegócio brasileiro. O texto denuncia a atuação do chamado “PCC do Agro”, que movimenta o mercado ilegal de defensivos agrícolas por meio da “máfia do veneno”, utilizando contrabando, roubo de cargas e produção clandestina:
O Brasil presenciou recentemente uma das maiores operações contra o crime organizado. Descobriu-se o que já se supunha, as organizações criminosas migraram para o mundo financeiro da Faria Lima, e jogou-se luz em um problema tão grande quanto: estamos vendo o PCC e congêneres cada vez mais presentes na agroindústria, forçando a compra de fazendas e usinas sucroalcooleiras. (…)
A “máfia do veneno”, provavelmente pilotada por um braço do PCC, atua em três frentes: o contrabando de produtos via fazendas instaladas na fronteira, principalmente no Paraguai; o roubo de cargas; e a produção de insumos piratas e altamente tóxicos, o que inclui o batismo de mercadorias desviadas.
Não é pouca coisa. O Brasil é o maior consumidor mundial de defensivos agrícolas, mais de 300 mil toneladas anuais. Isso na contabilidade oficial, pois outra parte circula por baixo das lonas dos caminhões do “PCC do Agro”. É uma carga perigosíssima, que chegou a ser usada como arma química.
(…) Há guerras químicas em curso no Brasil, com o uso de agroquímicos ilegais, para contaminar aldeias indígenas e quilombolas. Dados da Comissão Pastoral da Terra atestam que, somente em 2024, mais de 17 mil famílias brasileiras foram bombardeadas pela “máfia do veneno”, criminosos interessados em expandir suas fronteiras agrícolas para áreas onde tal não é permitido. (…)
No caso do agro, cuja cadeia total responde por 25% do PIB brasileiro, temos uma “sombra” nos rondando, o que é atestado pelo crescimento exponencial das apreensões desses produtos ilegais. Algo equivalente ao que aconteceu nos últimos dias com vários casos de contaminação por uso de metanol em bebidas falsificadas.
Sem combate adequado, o crime cresce. É preciso maior controle para que as cargas piratas, contrabandeadas ou roubadas fiquem no alvo das autoridades. É preciso proteger os agricultores e participantes do agronegócio que atuam com correção. (…)
