Brasil

Mais Pedro Cardoso, por favor. Por Kiko Nogueira

Pedro Cardoso é a surpresa mais benfazeja da cena cultural brasileira em muito tempo.

Sua participação no programa “Sem Censura”, da TV Brasil, é um clássico instantâneo. Pedro foi divulgar seu romance romance “Livro dos Títulos”.

“Eu não vou responder esta pergunta e nem nenhuma outra porque quando cheguei aqui, hoje, e encontrei uma empresa que está em greve, e não participo de programas de empresas que estão em greve”, falou à apresentadora atônita.

Ele havia se encontrado com trabalhadores em greve da Empresa Brasil de Comunicação, EBC, na entrada.

Ouviu suas queixas pacientemente. Cogitou não entrar no estúdio, mas teve uma ideia melhor: registrar ao vivo sua indignação.

“Cabe a mim o maior respeito a todos vocês, aos que estão parados, aos que estão trabalhando e aos que estão aqui. Mas eu, diante deste governo do Brasil, tenho muita convicção de que as pessoas que estão fazendo essa greve estão cobertas de razão”, prosseguiu.

Em seguida, destroçou o presidente da EBC, Laerte Rimoli, ligado a Eduardo Cunha, que usou as redes sociais para atacar a atriz Taís Araújo por uma palestra que ela deu narrando a experiência de sua família com o racismo.

“O que eu soube também quando cheguei aqui, é que o presidente desta empresa, que pertence ao povo brasileiro, fez comentários extremamente inapropriados a respeito do que teria dito uma colega minha onde a presença do sangue africano é visível na pele”, começou.

“Porque o sangue africano está presente em todos nós, em alguns de nós está presente também na pele. Mas em todos nós ele está. Se esta empresa, que é a casa do povo brasileiro, tem na presidência uma pessoa que fala contra isso, eu não posso falar do assunto que vim falar”.

Educadamente, cumprimentou os demais convidados antes de puxar o carro. Do lado de fora, congratulou-se com os grevistas.

Cardoso, um ator consagrado, agora lançando um livro, é uma exceção entre seus pares, especialmente o vasto elenco de cretinos fundamentais e covardes da Globo.

Articulado, politizado, inteligente, sabe seu papel num momento desgraçadamente patético do país. Não tem também as amarras dos outros. Não quer e não precisa estar na novela das 9.

Fica a pergunta: onde ele estava antes? Não importa. Antes tarde que mais tarde.

Que inspire outros protestos em seu métier. E que o próximo seja na Globo. Vai demorar, mas acontecerá. Pode apostar.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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