Malafaia mandou e marqueteiro do PL fez vídeo golpista atacando STF e Congresso

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 17:15
O pastor Silas Malafaia gritando em microfone e gesticulando, de camiseta amarela pedindo Justiça
O pastor Silas Malafaia – Reprodução/AFP

O pastor bolsonarista Silas Malafaia encomendou ao publicitário Duda Lima, marqueteiro oficial do PL e estrategista da campanha de Jair Bolsonaro em 2022, a produção de um vídeo com o objetivo de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.

O material — que ligava o fim das tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil à aprovação de uma anistia aos golpistas — é descrito pela Polícia Federal (PF) como parte de uma campanha articulada para coagir autoridades e obstruir a Justiça, mostra a Folha.

Segundo o relatório final da PF, Malafaia e Bolsonaro atuaram juntos para criar uma “campanha orquestrada” que tentava transformar uma sanção econômica dos EUA em narrativa de perseguição política. O pastor disse a Bolsonaro, em mensagens interceptadas, que pediu a Duda Lima para “inventar uma frase” que unisse os temas da “anistia já” e da “queda das taxas”, criando uma falsa ligação entre o tarifaço e a prisão dos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro.

“Tem que juntar a taxa com a questão da anistia. É a carta de Trump, não vão ter como dizer que é fake. Falei isso para o marqueteiro Duda”, escreveu Malafaia a Bolsonaro.

“O marqueteiro Duda deu a seguinte sugestão: ele vai produzir um vídeo e um banner. Tudo estará pronto na segunda-feira para lançarmos uma campanha orquestrada. Anistia para todos! O Brasil da liberdade não será taxado. Donald Trump.”

Dias depois, o vídeo foi publicado nas redes do pastor. A peça afirmava que “prender patriotas é injusto, calar vozes é censura e perseguir Bolsonaro é vergonha internacional”. O material usava imagens de Trump e o bordão “o Brasil da liberdade não será taxado”, concluindo com a frase: “Anistia para os inocentes”.

Mensagens entre Malafaia e Bolsonaro sobre o marqueteiro Duda Lima, reveladas em relatório da Polícia Federal

A Polícia Federal destacou o termo “campanha orquestrada” no relatório, afirmando que o objetivo real dos golpistas era “coagir ministros do STF e parlamentares a conceder anistia e impunidade aos envolvidos em crimes contra o Estado democrático de Direito”.

Malafaia, que está sob investigação por coação e obstrução de Justiça, admitiu à Folha que pediu o vídeo ao marqueteiro, mas negou crime e manteve o tom conspiratório: “Quer dizer que a esquerda pode fazer o que quiser e nós não podemos nos defender? Isso é uma safadeza cretina”, disse o pastor, atacando o STF e o ministro Alexandre de Moraes.

Já Duda Lima, também citado no relatório, afirmou em nota que trabalha contra o governo Lula, mas nega que o vídeo tenha atacado o “regramento jurídico”.

Apesar disso, sua ligação com o PL e com o clã bolsonarista é pública: suas agências receberam R$ 1,5 milhão do PL em 2024, além de R$ 8,3 milhões pela campanha de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, apadrinhada por Valdemar Costa Neto.

Enquanto isso, Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, segue alegando perseguição política e usando aliados como Malafaia e Duda Lima para tentar manipular a opinião pública.

No fim, a “campanha da anistia” — disfarçada de peça publicitária — mostra o quanto o bolsonarismo segue tentando subverter a Justiça e intimidar instituições democráticas. O modus operandi é o mesmo: propaganda, mentira e pressão contra o Estado de Direito.