Malu Gaspar usa vereador de extrema-direita, pupilo de Dallagnol, contra Moraes e o STF

Atualizado em 30 de dezembro de 2025 às 9:34
Deltan Dallagnol e Guilherme Kilter, do Novo: fãs de Malu Gaspar

A coluna de Malu Gaspar no Globo registra uma estranha recorrência com relação ao vereador de extrema direita Guilherme Kilter, pupilo de Deltan Dallagnol, corpo e alma da saudosa Lava Jato (o cérebro era Sergio Moro).

Nesta terça (30), Malu conta que a Procuradoria-Geral da República “foi acionada no último domingo pelo vereador Guilherme Kilter (Novo), de Curitiba, para apurar a atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a favor dos interesses do Banco Master”.

“O pedido de abertura de inquérito vai ser examinado pela equipe do procurador-geral da República, Paulo Gonet, reconduzido ao cargo neste ano com o apoio de Moraes”, diz ela. “Um pedido similar, apresentado pelo advogado Enio Martins Murad, já foi arquivado no último sábado (27) por Gonet, sob a alegação de que a ‘narrativa’ da pressão de Moraes permaneceu no ‘campo das suposições’”.

“Tanto o pedido de abertura de inquérito de Kilter como o de impeachment de Moraes vieram à tona após o blog revelar que Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pelo menos quatro vezes para tratar do Banco Master”, escreve Malu.

“Para o vereador, as reportagens expõem a ‘intensidade da pressão exercida pelo ministro sobre a autoridade monetária’”. Ela lembra que Kilter sustenta que Moraes se valeu “de sua alta posição e prestígio” para “patrocinar interesses privados do Banco Master perante a administração pública, o que configuraria, em tese, o crime de advocacia administrativa”.

“Não deveria ser preciso sequer mencionar o quão inapropriado é que um membro do Poder Judiciário agisse de tal maneira, como lobista ou articulador institucional perante uma autarquia do Poder Executivo, como é o Banco Central”, afirma Kilter, segundo Malu Gaspar.

Kilter, ainda: “A concepção por trás da repartição de poderes e da definição de deveres legais e de ética funcional se destina justamente a evitar interferências indevidas entre poderes, o que é completamente o oposto do que ocorre quando um magistrado ingressa em negociações que possuem relação de interesse direto com o sucesso do contrato de sua esposa.”

Malu ressalta que “Kilter também aponta que a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher de Moraes, firmou um contrato com o Master que previa a remuneração mensal de R$ 3,6 milhões por 36 meses, a partir do início de 2024″.

Em agosto, Kilter foi mencionado numa nota dizendo que a PGR havia decidido arquivar um pedido de investigação que tinha sido apresentado contra Gilmar Mendes, por causa da atuação dele como relator de uma ação sobre o comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

“Para o vereador Kilter, o caso expõe relações intrincadas entre o Poder Judiciário e entidades privadas e ‘uma sequência de decisões controversas’ que reacendem o debate sobre transparência, ética e equilíbrio entre interesse público e privado”, frisou Malu.

Em outra tabelinha notável, ela informou que o ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo Sérgio Domingues decidira que “a ação popular movida pelo vereador Guilherme Kilter (Novo), de Curitiba, contra a primeira-dama, a socióloga Rosângela Lula da Silva, vai ficar com a Justiça Federal do Distrito Federal”.

“Conforme informou o blog, a ação provocou um impasse na Justiça Federal, com jogo de empurra entre juízes de Curitiba e do DF sobre onde o processo deveria ser analisado, com os magistrados querendo jogar o caso no colo do outro. Na ação, o vereador alega que a primeira-dama viola os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade ao manter uma estrutura de ao menos 12 assessores que já gastou R$ 1,2 milhão em viagens desde o início do governo Lula, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo”, afirmava a jornalista.

Kilter retribui sempre a cortesia. “Malu Gaspar e Lauro Jardim estão colocando mais pressão no Moraes do que muitos senadores por aí”, declarou em sua redes. “Globo foi pra cima do Alexandre de Moraes!”, exaltou-se, comentando uma peroração de Malu na GloboNews. Etc etc.

Com semblante de jovem velho (você poderia chamar de “talento precoce”), 24 anos, evangélico, preocupado com os “valores da família”, “caçador de comunistas” e fã dos Bolsonaros, Guilherme Kilter é uma figura manjada.

Tem a típica fixação fascista contra o Supremo Tribunal Federal. Em setembro, estudantes da UFPR ocuparam o prédio histórico da universidade, em Curitiba, e impediram a realização de uma palestra que ele daria sobre supostos “abusos” que estariam sendo cometidos pelo STF no julgamento dos golpistas.

A Polícia Militar do Paraná chegou a entrar no prédio da universidade, usou bombas de efeito moral e gás e disparou balas de borracha. Uma estudante foi atingida na perna e um estudante foi preso.

Kilter estava acompanhado do advogado bolsonarista Jeffrey Chiquini. Os dois provocaram os alunos e acabaram se refugiando na sala dos professores do curso de Direito.

No início do ano, subiu à tribuna da Câmara de Curitiba para propor que a casa assinasse uma moção de repúdio a um show da cantora Anitta. Aprovou no Orçamento uma emenda que transfere recursos para a Associação Instituto Brasileiro de Debates, presidido por Jessika Victoria Peixoto Aquino, comentarista da Jovem Pan e ex-assessora parlamentar de Deltan Dallagnol antes de ele ter seu mandato como deputado federal cassado em maio de 2023 por “fraude” contra a Lei da Ficha Limpa.

Já curtiu um vídeo racista contra as religiões de matriz africana nas redes sociais, que dizia que “se macumba funcionasse, preto andava de iate”. No começo do mês, abordou morador de rua em Curitiba, gravou a ação e publicou em suas redes sociais. Perguntou onde o homem morava, questionou se possuía trabalho, humilhou o sujeito, que se declarou vendedor de bala. Os dois discutiram e o rapaz foi detido por desacato.

“O cidadão foi preso, um nóia que estava lá xingando a gente, levantou a voz com todo mundo. No fim do dia, a Prefeitura levou as coisas dele, a praça está limpa e agora vai receber o tratamento adequado. A gente precisa ser duro”, afirmou sobre seu feito.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.