Mancha de óleo chega ao Sudeste e Ministério Público é acionado. Por Thadeu Pires

Atualizado em 5 de novembro de 2019 às 18:31
Manguezais da Barra do Una, em Peruíbe, devem ser protegidos antes da chegada do óleo

POR THADEU PIRES

A aproximação das manchas de óleo, de origem não determinada, do litoral Sudeste levou uma ONG de Peruíbe, litoral sul de São Paulo, a acionar o Ministério Público Estadual e cobrar das autoridades a implantação de medidas de prevenção emergenciais.

“As correntes marítimas devem direcionar o material para a nossa costa em breve, e nós não estamos preparados para impedir a contaminação das praias e manguezais mais importantes da Mata Atlântica brasileira”, afirma Plínio Melo, secretário executivo da Mongue – Proteção ao Sistema Costeiro. A organização protocolou hoje o pedido para que o MP cobre dos poderes municipal, estadual e federal a implantação de planos de emergência para conter a chegada do óleo.

A catástrofe socioambiental que assola o litoral do Nordeste há mais de 60 dias, degradando ecossistemas e a economia local, já se aproxima de praias do Espírito Santo e deve se alastrar pelo Sudeste.

Maior remanescente costeiro de Mata Atlântica, com um sistema de manguezais que se estende entre São Paulo e Paraná, a região abriga quatro unidades de conservação costeiras, ao longo de 227 quilômetros.

“Estamos diante de uma tragédia rodeada de incertezas e desinformação, por isso, acreditamos que é extremamente oportuna a aplicação do princípio da precaução para proteger a costa e a economia do litoral paulista”, completa o secretário executivo.

Constituído pelo Governo do Estado de São Paulo no dia 30 de outubro, um grupo de trabalho multidisciplinar deverá ‘levantar informações e elencar medidas necessárias à prevenção e respostas ao acidente com derramamento de petróleo na costa brasileira’. Responsável pelo grupo, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente informou que está colaborando no monitoramento das manchas e que os chefes das unidades de conservação estariam em contato com a população, que deverá ser informada de mais detalhes em reuniões a serem realizadas ‘nos próximos dias’.

Clique para ver a representação (http://bit.ly/oleolitoral) e as justificativas apresentadas pela Mongue.

Mapa do Ministério do Meio Ambiente mostra as áreas sensíveis ao óleo no litoral sul de SP

Desastre sem precedentes

Identificadas pela primeira vez no litoral paraibano, no fim de agosto, as manchas já atingiram mais de 2 mil quilômetros de áreas costeiras nos nove estados do Nordeste. A hipótese apresentada pelas autoridades até o momento é de que o óleo seja de procedência venezuelana e tenha sido descartado, de alguma forma, pelo navio petroleiro de bandeira grega Bouboulina.

A Delta Tankers, proprietária da embarcação, nega que tenha envolvimento no vazamento e cobra das autoridades brasileiras a apresentação de provas que corroborem a suspeita levantada.

Mais de dois meses após o surgimento das primeiras manchas, em 30 de agosto, a Polícia Federal disse ter identificado, em uma imagem de satélite do dia 29 de julho, uma pluma de óleo a 733,2 km da costa brasileira, a leste da Paraíba.

O complexo sistema de movimentação de correntes marítimas do Atlântico Sul trouxe o material para o litoral nordestino e agora ameaça os ecossistemas marinhos da costa Sudeste do país, podendo já ter chegado ao Caribe e estar a caminho da costa africana, como especularam autoridades federais em um grande imbróglio de desinformação.