Mandetta fala muito e faz pouco: no Rio, decisão equivocada coloca em risco pacientes do Hospital de Bonsucesso

Atualizado em 30 de março de 2020 às 8:21
Mandetta

Muita gente celebrou a fala do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, como a retomada do bom senso em um governo desprovido de qualquer racionalidade.

Engano.

Mandetta é leal a Jair Bolsonaro, como deixou claro em suas palavras contra a imprensa, que neste momento presta um serviço relevante.

“Desliguem um pouco a televisão. Às vezes ela é tóxica demais. Há quantidade de informações e, às vezes, os meios de comunicação são sórdidos porque ele só vendem se a matéria for ruim. Publicam o óbito, nunca vai ter que as pessoas estão sorrindo na rua. Senão, ninguém compra o jornal”, disse.

Se deixar de acompanhar a imprensa, a população vai se informar como? Pela rede de WhatsApp que tem confundido a população?

Homem de confiança de Bolsonaro, Mandetta fala muito e faz pouco, como está claro para os servidores do Hospital Federal de Bom Sucesso, reservado pelo Ministério da Saúde para ser referência no tratamento do coronavírus.

Em troca de mensagens, os médicos alertam que o hospital não está preparado para receber doentes infectados pelo Covid-19.

E se houver insistência, os pacientes com rim transplantado, que ocupam uma ala importante do hospital, terão que ser transferidos e correm risco de ter sua saúde agravada.

O DCM teve acesso a uma mensagem transmita pelos médicos da nefrologia do hospital:

“Me parece grave erro estratégico iniciar como referencia o Hospital Federal de Bonsucesso, de alta complexidade, único a realizar transplantes no RJ. E não tornar referencia e nem capacitar para atendimento os outros hospitais da rede que não fazem transplante. E transferir os pacientes transplantados do HFB para hospitais que não tem especialistas em transplante renal”, afirmou uma médica.

“Ao explodir, necessitando dos leitos do HFB, aí tudo bem vamos todos para COVID. Agora inicialmente acabar com o acompanhamento aos transplantados acarretará em alto custo para o ESTADO caso percam o enxerto e necessitem retornar para terapia dialítica”, acrescentou.

Enxerto é como os médicos chamam o rim transplantado. Os pacientes que estão lá já se recusaram a deixar o hospital.

Se casos do coronavírus foram levados para o Hospital de Bonsucesso, como planeja o Ministério da Saúde, a situação pode ficar ainda mais complicada, com infectados graves colocados próximos de doentes em situação de extrema fragilidade.

Quem definiu o hospital como referência para o Covid-19 foi o médico Marcelo Lambert, diretor do programa do Ministério da Saúde no Estado do Rio de Janeiro, homem de confiança de Flávio Bolsonaro.

Há quatro dias, Lambert entrou em quarentena por suspeita de estar também contaminado. Sua equipe, no entanto, é composta também por pessoas indicadas por senador filho do presidente.

Ou seja, Flávio Bolsonaro continua dando as cartas no sistema federal de saúde no Rio de Janeiro.

Os médicos que não fazem parte desse esquema estão muito apreensivos por decisões equivocadas que podem agravar o problema de saúde no Estado.