Mangueira perguntou onde está Deus enquanto o feminicídio aumenta e os racistas perdem escrúpulos. Por Ed Rene Kivitz

Atualizado em 25 de fevereiro de 2020 às 18:26
Mangueira traz Jesus Cristo jovem, negro e morador de favela – Gabriel Nascimento/Riotur/Fotos Públicas

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A teologia não é privilégio exclusivo dos teólogos e a religião institucionalizada não detém o monopólio da produção das crenças.

Quando Luiz Gonzaga colocou em verso a agonia do sertão, estava fazendo teologia e refletindo sobre o lugar de Deus face ao sofrimento humano: “Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação”.

Ao narrar suas memórias dos horrores dos campos de concentração nazistas, Primo Levy registra o dia quando diante de dois corpos esquálidos pendurados enforcados, alguém do meio da multidão pergunta “onde está Deus?”. Levy responde profeticamente: “Ali, pendurado na forca!”.

Também a Mangueira perguntou onde está Deus enquanto o feminicídio aumenta, os racistas perdem escrúpulos, a homofobia espalha violência e a gente pobre e negra é assassinada dentro de sua própria casa.

Desde a Sapucaí ecoa uma resposta: “Jesus está também na mulher violentada, nos LGBTI+ agredidos e desrespeitados, nas crianças cravejadas de balas”!

Deus não está no fogo que queima o sertão, está na bravura do sertanejo; Deus não está na brutalidade dos que promovem genocídios, está na força dos resistentes e resilientes; Deus não está na mão violenta que agride e mata pobres, crianças, mulheres e homossexuais, está na solidariedade, no respeito e no amor a todos os seres humanos, especialmente aqueles circunstancialmente vulneráveis; Deus não está nos messias com arma na mão – seja polícia, milícia ou traficante, está naqueles que são pacificadores, seguidores do Príncipe da Paz!

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Ed Rene Kivitz é pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo.