Manifestações chilenas mostram a violência da direita pinochetista que seria modelo para o Brasil. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de fevereiro de 2020 às 6:21
Manifestações populares pressionaram por mais direitos e participação popular / Reprodução

Publicado originalmente no blog do autor

Os números ajudam a medir a distância entre as realidades de um Chile convulsionado e de um Brasil resignado. O jornal El Mostrador, de Santiago, informa hoje que de outubro a dezembro a polícia prendeu e denunciou por algum delito, principalmente relacionado com “desordem pública”, 9.689 menores de 18 anos.

Estão nas ruas milhares de adolescentes com cara de criança. Um relatório entregue à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, denuncia que pelo menos 200 menores acusam carabineiros (a violenta polícia ostensiva chilena) de tortura e maus tratos.

Já os comandos dos carabineiros acusam 68 menores de agressões aos policiais. O jornal não informa um dado de difícil apuração, que é o número de menores apreendidos que continuam detidos.

Não há trégua entre polícia e manifestantes no Chile, onde hoje os estudantes voltaram a enfrentar a repressão, durante o jogo do Inter com a Universidad.

Depois dos tiros que provocaram lesões nos olhos de cerca de 400 jovens, os carabineiros não podem mais usar balas de borracha.

Parece um consolo. Mas a polícia pode espancar, prender e manter encarcerados menores misturados com adultos e meninos nas mesmas celas com meninas.

As manifestações no Chile expuseram para o mundo a violência da direita herdada do pinochetismo e as misérias de um país que, segundo Paulo Guedes, seria modelo para o Brasil.

No Chile, os idosos abreviam a sobrevivência por não ter o que comer, com as aposentadorias sugadas pelos bancos, e os jovens ficam adultos antes do tempo por desencanto, por verem pais e avós em dificuldades e por falta de perspectivas. Mas lá muitos idosos e a maioria dos jovens resistem nas ruas.