Manifestações devem ajudar Lula a barrar anistia e blindagem no Senado; entenda

Atualizado em 22 de setembro de 2025 às 10:48
Lula, presidente do Brasil, e Davi Alcolumbre, do Senado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após as manifestações de domingo contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia, o foco do governo Lula deslocou-se para o Senado e, em especial, para as mãos do presidente da casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A reação popular, que tomou as ruas de mais de 30 cidades e expôs grande rejeição às medidas aprovadas pela Câmara, obrigou o Palácio do Planalto a montar uma ofensiva para impedir que a pauta pactuada entre Centrão e bolsonaristas avance sem freios.

Segundo o Estadão, a estratégia do governo passou por articular com Alcolumbre uma narrativa pública que destaque o custo político de aprovar tanto a blindagem de parlamentares quanto qualquer versão de anistia que beneficie o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Batizada nas ruas e nas redes como “PEC da Bandidagem”, a proposta que exige autorização do Congresso para investigações destinadas a parlamentares foi entendida por mobilizadores como um sinal de impunidade, o que alimentou os protestos e deu munição à articulação do Planalto.

O governo também acionou artistas e influenciadores para sustentar a pressão pública. Nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Anitta engrossaram o coro contra o perdão a condenados pelo 8 de janeiro e a mudanças que devolvam prerrogativas a deputados e senadores.

A presença cultural ajudou a transformar a mobilização em demonstração de massa e a deslocar o debate do ambiente estritamente parlamentar para a opinião pública nacional.

Ato na Avenida Paulista. Imagem: reprodução

No Congresso, a derrota simbólica na Câmara, onde 12 deputados do PT votaram a favor da PEC na primeira votação, abrindo uma crise interna, expôs as fragilidades de uma tática baseada em barganhas: o Centrão queria blindagem para frear investigações sobre emendas; os bolsonaristas buscavam a anistia.

O resultado foi a aceleração das duas pautas, mas também o surgimento de reação tão forte que hoje dificulta a tramitação no Senado.

“Nós estamos com muitos problemas ao mesmo tempo. Estamos com os problemas daqueles que falam que vão obstruir 24 horas por dia para não votar mais nada e daqueles que não querem votar a legislação porque ficam se atendo aos debates, seja do Judiciário, seja de impeachment de ministro do Supremo, seja de anistia… Isso aqui é um desabafo: está impossível tentar contornar situações como essa. A gente está sendo atropelado e dragado por uma mesma conversa desde a última eleição”, avisou Alcolumbre em sessão recente.

No flanco jurídico e político, vozes críticas já reagiram. Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator designado para a proposta sobre penas, já rebatizou o projeto como “PL da Dosimetria” e declarou que o foco é reduzir panas sob a justificativa de que “isso é que pode pacificar o País”. “Se vai reduzir para que o Bolsonaro seja liberado, aí é outra coisa. Não vou fazer projeto para afrontar o Supremo Tribunal Federal”, explicou.

Em contraponto, Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, definiu a operação como um escárnio: “Estão fazendo uma espécie de anistia com botox. Mudaram o nome para suavizar o que não pode ser suavizado”.

O episódio abriu fissuras internas no PT e rebaixou a confiança do Planalto em interlocutores da Câmara. Lula apostou em diálogo com Alcolumbre e no recuo do impulso inicial — uma tentativa de preservar a governabilidade sem assumir custo reputacional elevado. A cúpula do União Brasil, por sua vez, deu ultimato a filiados no Executivo, mostrando que o comando do Senado ganhou influência adicional sobre o destino das pautas.

No núcleo bolsonarista, o recado foi de pressão: Valdemar Costa Neto advertiu que a bancada e senadores do PL não aceitarão “meia-anistia” e ameaçou obstruções caso o projeto amplo seja descartado. A perspectiva de obstrução endurece o jogo legislativo e complica a produção de acordos políticos largamente necessários para a votação de outras matérias.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.