
O general Walter Braga Netto articulou, à época em que comandava o Ministério da Defesa do governo Bolsonaro, um mecanismo que driblou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que barraram o orçamento secreto para continuar a distribuir verbas a aliados do Centrão.
Em 2021 e 2022, a gestão bolsonarista usou ao menos R$ 1 bilhão do caixa do Ministério da Defesa para irrigar aliados no Congresso. Os parlamentares beneficiados direcionaram as verbas a seus redutos eleitorais por meio do programa Calha Norte.
Ao menos 23 políticos do Centrão foram beneficiados pela verba bilionária distribuída por Braga Netto. Um dos principais deles foi o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que teria recebido cerca de R$ 264 milhões, ou seja, um quarto do total. A informação foi obtida pelo UOL via LAI (Lei de Acesso à Informação).
No entanto, a estratégia no núcleo central do governo Bolsonaro foi forjada após decisão da ministra Rosa Weber, do STF, em 5 de novembro de 2021, suspendendo o orçamento secreto.

Um mês depois, Braga Netto pediu recursos ao Ministério da Economia, Paulo Guedes, para turbinar o Calha Norte. Guedes, então, concedeu R$ 328 milhões, e o Congresso Nacional aprova os recursos na forma de lei.
Vale destacar que os outros R$ 703 milhões foram liberados já no final do governo, em dezembro de 2022, quando a Defesa já estava sob o comando do também general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Na época, Braga Netto se lançou candidato a vice na chapa de Bolsonaro.
Em 19 de dezembro de 2022, o STF barrou em definitivo o orçamento secreto. Os recursos, entretanto já estavam liberados e destinados aos redutos dos parlamentares do Centrão na região Norte.
O general de divisão Ubiratan Poty, que comanda o Calha Norte desde o início da gestão Bolsonaro, admitiu que a distribuição da verba usou critérios políticos. “Isso [os recursos com o carimbo de políticos] foi [definido] através de documentos específicos lá do Congresso”, afirmou.