Maomé x Copenhague

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 15:01
Em Copenhague: não consegui visitar o jornal que publicou as caricaturas de Maomé

Copenhague é uma cidade alegre.  Gente bonita, saudável, risonha em suas bicicletas que as levam para passeios ou para o trabalho.

Tudo funciona. O pão doce é soberbo, bem como o cachorro quente com um buraco, e todo mundo fala inglês.  Não posso dizer que apreciei a cozinha moderna escandinava, representada pelo Noma, um dos reataurantes mais prestigiosos do mundo. Comi um peixe, num restaurante caro de Copenhague, que me pareceu bizarramente cru.

Quer dizer, dei uma mordida. E desisti.

É fácil se apaixonar por Copenhague. Fui lá duas vezes, e pretendo ir em breve mais uma vez. É uma sociedade igualitária, moldada numa cultura admirável que estabelece que ninguém é melhor ou pior que ninguém.

Há um ponto que destoa em Copenhague: a redação do jornal Jyllands-Posten. Fui ao prédio. Queria conhecer a redação. Um aparato de segurança dificultou e enfim impediu uma visita.

Não à toa.

O  Jyllands-Posten é um jornal marcado para morrer. Literalmente. Ele foi condenado à morte por extremistas islâmicos desde que foram publicadas caricaturas de Maomé. O objetivo do jornal era mostrar coragem diante do radicalismo islâmico.

Mas foi um gesto desastrado.

Dele resultaram manifestações ferozes de protesto. Nunca mais o jornal e os caricaturistas tiveram sossego.

Neste final de ano, cinco pessoas foram presas em Copenhague. Segundo a polícia, elas planejavam atacar o jornal e “matar o maior número de pessoas”.

Quando Salmon Rushdie publicou os Versos Satânicos, que enfureceram os islâmicos em 1989, não havia provocação. Nem ele nem ninguém fora do islamismo radical imaginava uma reação como aquela.

Isso é uma coisa.

Quando as caricaturas saíram no jornal, todo mundo sabia o que aconteceria.

Isto é outra coisa. É uma mistura de bravata com soberba e irresponsabilidade. Coisa de jornalista.

A pior maneira de lidar com o fanatismo é provocar os fanáticos. Você se iguala a eles. Aumenta o problema em vez de resolvê-lo.

A má decisão do jornal jogou uma sombra sobre Copenhague.  As prisões recentes mostram que tão cedo essa sombra não desaparecerá.