Marco Antônio Villa e as mentiras que a Jovem Pan contou para o público. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de maio de 2019 às 12:03
Villa e o Felipe Moura Brasil: fake news em série

Depois de veicular a informação mentirosa de que Marco Antonio Villa estava de férias, a Jovem Pan divulgou na manhã desta quinta-feira uma nota para dar sua versão sobre o afastamento do comentarista. Ela insinua que puniu o apresentador por ultrapassar a “barreira da crítica” e recorrer à “adjetivação grosseira”. A nota tem os contornos do engodo, conforme se analisará mais adiante. Primeiro a nota da Jovem Pan:

Confrontado com versões e rumores envolvendo um integrante do nosso quadro de profissionais, o Grupo Jovem Pan tem a comunicar o seguinte:

1. Preferimos restringir ao âmbito interno da empresa discordâncias entre colaboradores e direção da empresa;

2. O Grupo Jovem Pan foi pioneiro na intensificação do debate político com a contratação de comentaristas com diferentes pontos de vista, que sempre se manifestaram livremente;

3. O apreço do Grupo Jovem Pan pelo convívio dos contrários – sem o qual não existe democracia real – é atestado diariamente pelo conteúdo da nossa programação;

4. O Grupo Jovem Pan jamais cedeu a pressões de governantes e nunca transformou a liberdade de expressão em moeda de troca;

5. Vale frisar que o atual governo federal não fez chegar ao Grupo Jovem Pan qualquer crítica ao desempenho dos nossos profissionais;

6. Fiel à própria história, o Grupo Jovem Pan seguirá orientado pelo amor à verdade e pelo respeito ao público, que vem homenageando esse comportamento com recordes de audiência e com a consolidação da credibilidade que merece um trabalho sério e sóbrio;

7. O Grupo Jovem Pan entende que esse mesmo respeito ao público impõe aos seus comentaristas limites que separam a crítica substantiva da adjetivação grosseira. Quando tal barreira é ultrapassada, cabe à direção da empresa aplicar medidas que garantam a volta à normalidade.

Direção do Grupo Jovem Pan

Chega a ser risível o argumento de a rádio se orienta pelo “amor à verdade”. Fosse assim, a rádio não teria divulgado a informação falsa (fake news) de que o comentarista estava de férias e que retornaria à emissora em junho.

A patranha está gravada. No dia 28 de maio, o diretor de jornalismo Felipe Moura Brasil, no programa Pingo nos is, leu um comunicado que agora a própria emissora desmente.

“Breve esclarecimento institucional. Blogueiros sujos publicaram na internet que o presidente Jair Bolsonaro mandou e a Jovem Pan demitiu o historiador Marco Antonio Villa. O Grupo Jovem Pan informa nesta terça-feira, 28 de maio de 2019, que são duas fake news. Villa, neste período que compreende semanas de maio e junho, está de férias. E Bolsonaro nunca pediu cabeça de qualquer profissional da empresa.”

Foi o próprio Villa quem desmentiu a Jovem Pan em vídeo que divulgou no mesmo dia.

O comentarista leu a carta que recebeu da empresa, que contraria o “comunicado institucional” feito ao público por seu diretor de jornalismo.

“Em face da necessidade de algumas readequações internas, vimos pela presente comunicar que, pelo período de trinta dias, a contar da presente, prescindiremos dos vossos serviços”, disse Villa, lendo o documento.

Essa carta revelada por Villa desmente que estava de férias e escancara a segunda mentira, expressa no comunicado de hoje, em que não explica por que afastou o jornalista, mas deixa subentendido:

O Grupo Jovem Pan entende que esse mesmo respeito ao público impõe aos seus comentaristas limites que separam a crítica substantiva da adjetivação grosseira. Quando tal barreira é ultrapassada, cabe à direção da empresa aplicar medidas que garantam a volta à normalidade.

Se esse fosse o verdadeiro motivo, não precisaria ter mentido nem para público, nem para Marco Antônio Villa. A um disse, disse que o comentarista estava de férias. A outro, inventou a necessidade de “readequações internas”. Fraude pura.

Flagrada na mentira, a rádio tenta agora dar ar de nobreza ao que foi uma ação para censurar seu comentarista. Seria atitude nobre assegurar que a “barreira da crítica” não seja ultrapassada.

Mas esta, como se sabe, nunca foi a preocupação da Jovem Pan. Se fosse, Villa teria sido afastado há muito tempo, pelas ofensas que dirigia a Lula, Dilma Rousseff, Fernando Haddad e outros políticos de esquerda.

Algumas vezes, os comentários desciam ao nível do xingamento.

Ou será que, para a Jovem Pan, “adjetivação grosseira” contra pessoas de esquerda pode?

No novo comunicado, o de hoje, a Pan insiste em isentar Bolsonaro de qualquer responsabilidade pelo afastamento de Villa.

“Vale frisar que o atual governo federal não fez chegar ao Grupo Jovem Pan qualquer crítica ao desempenho dos nossos profissionais”, destacou. 

O fato é que, em seu último comentário na Pan, Villa criticou Bolsonaro.

“Um presidente não tem compostura, não tem preparo. Não tem articulação política. Reforça a crítica ao parlamento, estimulando atos neonazistas, como do próximo dia 26, que é claramente no sentindo de fechar o Supremo, fechar o Congresso e impor a ditadura. E o presidente estimula isso”, afirmou.

Não chega nem perto do que Villa dizia, por exemplo, sobre Haddad, a quem chamava de Jaiminho, por supostamente não gostar de trabalhar.

Não foi, portanto, a ultrapassagem da barreira da crítica que levou a Pan a afastar Villa.

A empresa, certamente, não contará o motivo real e continuará com a lenga-lenga de que “O Grupo Jovem Pan jamais cedeu a pressões de governantes e nunca transformou a liberdade de expressão em moeda de troca”.

A era Bolsonaro tornou os dias mais difíceis na velha imprensa. E os comentaristas agora têm que levar uma mordaça para o trabalho, preocupando-se com a análise do Planalto sobre suas manifestações.

Os jornalistas da direita, como Villa, terão bons motivos para sentir saudade da esquerda no governo.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com