Marcos Pontes nega a ciência em favor da sabujice. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 22 de julho de 2019 às 23:50
Marcos Pontes | Agência Brasil

Ninguém jamais duvidou da incapacidade do atual presidente da República de reconhecer na ciência a única via para o desenvolvimento humano.

A sua cruzada contra o conhecimento científico fundada na ignorância galopante disseminada por gente como Olavo de Carvalho só encontra precedentes no obscurantismo reinante da idade média.

Negar dados de institutos sérios e reconhecidos internacionalmente, portanto, se tornou praxe cotidiana do atual governo que para além de espelhar a miséria intelectual que se alastra Palácio do Planalto afora, serve também de combustível para a fogueira da insanidade que o colocou no mais alto posto da República.

É nesses termos que Bolsonaro vai criando uma realidade paralela no país sobrepujando os fatos simplesmente por aquilo que o seu viés ideológico pessoal o obriga a ter como verdade inquestionável.

Falar em fome no Brasil? Uma grande mentira. Desemprego em alta? Culpa da metodologia utilizada. Aquecimento global? Coisa de esquerdista desocupado.

E é assim, negando a realidade e se encastelando num universo em que o Brasil real inexiste, que Bolsonaro procura fazer do seu mandato algo que na prática não possui a menor ideia de como proceder.

Mas a coisa toda piora quando não só ele, mas toda a sua equipe ministerial composta uns por lunáticos por excelência, outros que de alguma forma poderiam ajudá-lo a compreender o tempo em que vive, se mostram todos tragados pelo imenso buraco negro de sua obtusidade.

No seu mais novo embate com a verdade envolvendo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que revelaram um aumento de nada menos do que 88% no desmatamento da Amazônia detectado no mês de junho em relação ao mesmo mês de 2018, a vítima da vez foi Marcos Pontes, astronauta e atual ministro de uma pasta que curiosamente carrega o nome de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Chefe do ministério ao qual o INPE está subordinado, o mínimo que se esperava de Pontes, homem que teve o privilégio de trabalhar na NASA e único brasileiro a ir ao espaço, era o de defender os resultados obtidos pelo que de mais evoluído tecnologicamente existe no assunto.

Chamado por Bolsonaro, Pontes simplesmente negou a mesma ciência que basicamente o fez deixar o planeta terra e orbitar ao redor do globo, unicamente para defender o chefe.

Num discurso inaceitável para alguém com o seu currículo, também disse compartilhar a “estranheza” de Bolsonaro quanto à variação dos dados.

Sim, tudo o que Bolsonaro possui para pôr em dúvida os dados do INPE é tão somente um “sentimento de estranheza”.

Incapaz de fazer qualquer relação existente entre o desmonte que patrocinou dos órgãos de proteção ambiental e o aumento do desmatamento da Amazônia, o nosso presidente da República diz agora “estranhar” números tão alarmantes.

Ainda pior, sabedor que é do prejuízo financeiro e de imagem que tais dados trazem ao país, sua única medida para “resolver” o problema é tão somente o de censurar a divulgação dos dados.

Realmente brilhante.

Verdade seja dita, vindo de Jair Bolsonaro nada disso pode ser considerado uma surpresa. Durante toda a campanha e, mais ainda, durante suas três décadas de inatividade parlamentar, jamais deixou sombras de dúvidas sobre o seu completo desprezo por qualquer coisa que diga respeito à preservação ambiental.

Mas quando nos deparamos com o fato de um homem da ciência ser tragado para as profundezas de uma ignorância convicta e satisfeita, nos encaminhamos um pouco mais par a barbárie.

É triste, mas nesse ritmo, Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, em breve estará engrossando as fileiras dos alegres terraplanistas.