
Em entrevista à BBC News Mundo, María Corina Machado, líder da oposição venezuelana e vencedora do Nobel da Paz de 2025, falou sobre a premiação, sua luta contra Nicolás Maduro e o apoio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ela afirmou estar “grata” pelo que Trump tem feito “pela paz, liberdade e democracia”, e disse que a atuação do republicano “fortalece a causa pela libertação da Venezuela”:
María Corina Machado, prêmio Nobel da Paz de 2025. Você é a segunda mulher latino-americana e a primeira venezuelana a alcançar este reconhecimento. O que sentiu quando anunciaram a notícia?
Bom, eu acho que sinto o mesmo que estou sentindo agora. Ainda não consigo acreditar. Não tive oportunidade de processar tudo. Mas, ao mesmo tempo, sinto que o povo da Venezuela mereceu este reconhecimento. Milhões e milhões de venezuelanos que deram tudo. Arriscaram suas vidas, suas famílias, seus bens, tudo. Esta é uma injeção de energia, de ânimo, de força para concretizar a última etapa desta luta, que é a libertação da Venezuela e a construção de uma nação com pilares democráticos e éticos muito sólidos. (…)
O chavismo acusou os EUA de planejar uma invasão. Recentemente, foi publicada uma pesquisa que afirma que, diante de uma eventual ação militar para “tirar Maduro”, 44% dos entrevistados disseram que sairiam às ruas para apoiar a ação, enquanto 7% sairiam para rejeitá-la. O que você pensa desses resultados e qual é a sua posição a respeito?
A Venezuela já vive uma invasão, absolutamente. De agentes cubanos, iranianos, chineses, russos, de terroristas islâmicos e cartéis de drogas que assumiram o controle de boa parte do nosso território, deixando rastros de sangue, destruição, dor e fome. Por isso existe essa reação: aqui trata-se de uma libertação. Em primeiro lugar, os venezuelanos já deram um mandato para mudança de regime. Isso é muito importante, e o mundo sabe disso e reconheceu.

Maduro é claramente um criminoso. Ele é o chefe de uma estrutura criminosa, é um ilegítimo que se apega ao poder pela força, aplicando terrorismo de Estado — como já afirmou a própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos — e cometendo crimes contra a humanidade, como apontou a missão de apuração de fatos das Nações Unidas. (…)
BBC Mundo – Então a senhora apoiaria uma invasão como última instância?
Quem está falando aqui sobre invasão? Repito: a invasão já existe. O que precisamos é de uma libertação. E, para isso, precisamos de posições firmes, como a que houve ontem no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde o Reino Unido manteve uma posição firme de liderança, como já fez em outros conflitos no mundo, como no Oriente Médio e na Ucrânia, e que agora assume em relação à Venezuela. (…)
O que você diria aos opositores que não querem que os Estados Unidos invadam ou ataquem a Venezuela?
Só existem duas posições. Ou você está com o povo da Venezuela, que ordenou uma transição para a democracia, ou está com um cartel e com o crime que Maduro representa. Aí estão as duas posições: com o povo da Venezuela, acompanhado pelos Estados Unidos e pela maioria das nações da América Latina, Caribe e Europa.
São pouquíssimos os casos que permaneceram em silêncio diante da escalada criminosa de Nicolás Maduro. Portanto, não vou especular sobre as motivações de algumas pessoas na Venezuela que se alinham à narrativa do regime. Cada uma terá suas razões. Mas isso eu digo: a história vai julgar, assim como hoje está julgando o povo venezuelano. (…)
BBC Mundo – Você conversou com o presidente Trump na sexta-feira. O que pode nos contar sobre essa conversa?
Sim, ontem tivemos uma conversa. Foi uma boa conversa. Pude expressar a ele nossa gratidão e o quanto o povo venezuelano está agradecido pelo que ele está fazendo, não apenas nas Américas, mas em todo o mundo, pela paz, liberdade e democracia. Fiquei muito feliz por termos tido a oportunidade de falar.