Marielle e Edson Luís; 1968/2018: que se enfrente a fatalidade. Por Fernando Brito

Atualizado em 18 de março de 2018 às 17:45

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Mortes de Marielle e Edson Luís. Foto: Reprodução/Tijolaço

Dois dos principais colunistas dominicais – Janio de Freitas e Elio Gaspari, – evocam hoje o ano de 1968 e os paralelos entre os assassinatos da vereadora Marielle Franco e o do estudante Edson Luiz, no Calabouço, um restaurante popular frequentado por universitários e secundaristas, naqueles 50 anos passados.

Janio fala da comoção semelhante:

A comoção com o assassinato de Edson Luís e com a decorrente passeata chamada dos Cem Mil, de fato muito mais, abriu as portas para a frustração com a ditadura, que dali até cair não teve mais o sono fácil. Não é sem razões muito profundas, como podem ser a saturação e uma consciência definitiva, que um país vive a sua comoção com a maturidade vista na celebração por Marielle. O que isso nos diz, ainda não sabemos.

Gaspari, sempre mais perto dos círculos do poder, sugere o que se passa do outro lado:

14 de março de 2018: Marielle Franco, negra e favelada da Maré, conseguiu se formar na PUC, militou no PSOL, elegeu-se vereadora e foi assassinada no Estácio. Morreu também o motorista Anderson Gomes.
28 de março de 1968: O estudante paraense Edson Lima Souto estava numa passeata de jovens que comiam no restaurante Calabouço, tomou um tiro no peito e morreu na hora. Edson era um “calaboçal”, nome dado aos estudantes que comiam naquele restaurante público e barato. O tiro que o matou teria sido dado por um tenente da PM, mas a investigação deu em nada. Naquele dia começou no Brasil um ano que não terminou, mas acabou com a edição do AI-5 na noite de 13 de dezembro.
Em 1968 havia um núcleo no governo flertando com uma radicalização da ditadura.

Ambos, creio eu, têm razão. Houve tanto a comoção com o assassínio da vereadora quanto se desenha a espiral da repressão adiante de nós.

Mas ainda é uma incógnita o comportamento dos militares, cujo papel ainda estamos por compreender nesta quadra, diferentemente do que ocorria então: afinal, a linha-dura vinha de prevalecer na sucessão de Castello Branco, elevando Artur da Costa e Silva – o símbolo dos “gorilas”, como eram chamados os generais golpistas mais radicais – ao cargo de Presidente.

Pode ser que essa seja uma semelhança, também, embora pareça que a linha legalista prevaleça no comando de direito das estruturas militares. O “gorila”, agora, é um ex-capitão, com um histórico de insubordinação que desagrada o alto oficialato, mas que rende frutos na tropa e em seus comandos intermediários.

Resta saber se as tolices ocuparão o lugar da lucidez entre os que se opõem à escalada autoritária e não enxerguemos que é preciso juntar os cacos da ordem demolida e não reinventar a roda, mesmo com as intenções mais generosas, como ocorreu com a radicalização do pós-68.

E ver que, do AI-5 de 1968, nada há de mais perto que o cancelamento das eleições de 2018.