“Marielle Franco”, o grito de MC Carol contra a impotência e a desesperança. Por Sacramento

Atualizado em 23 de março de 2018 às 7:40

Das vozes que choraram a morte de Marielle Franco, a da cantora carioca MC Carol foi a que melhor expressou a sensação de impotência e desesperança deixada pela execução.

O desabafo de Carol veio com a música “Marielle Franco”, parceria da MC com o coletivo Heavy Baile.

Crua, direta, quase falada, é um grito em protesto não só pela morte da vereadora, mas também contra a incessante opressão sofrida pelas camadas mais pobres da população.

“Eu não aguento mais viver oprimida, nesse país sem democracia. Tou me sentindo acorrentada, desmotivada, eu também naquele carro fui executada. Eu tenho ódio, pavor, eu sinto medo. A escravidão não acabou, estão matando os negros. Estou cansado de ser esculachado, roubado, oprimido, preso, forjado”, diz a letra.

Carol cita Marielle, mas lembra também de Cláudia Silva Ferreira, morta após ser baleada pela polícia e ter o corpo arrastado enquanto era levada ao hospital, e de Marisa de Carvalho Nóbrega, que morreu depois de tomar uma coronhada dos policiais que abordaram o seu filho.

O clipe da música, como a letra, não deixa espaço para metáforas e poesia. Começa com o choro de uma avó que perdeu o neto de 12 anos. Negra, lamentou a morte física e o assassinato da reputação do menino, apontado pelos algozes como integrante de facção criminosa.

Embora trágica, é uma história tão corriqueira que nem recebe muito destaque do noticiário. O clipe continua com imagens de protestos em comunidades do Rio de Janeiro intercaladas por recortes de notícias de crimes e desrespeito aos direitos básicos dos cidadãos.

Estão lá o caso dos sete mortos no Complexo do Salgueiro, o desaparecimento de Amarildo e as chacinas de Vigário Geral e da Candelária.

Injustiças como a história de Bárbara Querino, presa sob acusação de assalto e de Heberson Lima de Oliveira, infectado por HIV após ser preso por um estupro que não cometeu, e agressões a trabalhadores como a professora Luciana Xavier, que teve o nariz quebrado por protestar na Câmara Municipal de São Paulo, também aparecem no clipe.

A música tem pouco mais de 3 minutos, mas mesmo que fosse uma epopeia não seria suficiente para mostrar todas a notícias pelo Brasil envolvendo professores espancados, crianças mortas à bala, mulheres assassinadas e chacinas sem a prisão dos autores.

Sobram crimes e abusos. Falta a expectativa de que um dia isso acabe e dê lugar à paz e à justiça.

Pelo modo como os gestores públicos tratam o problema da violência e fecham os olhos para a desigualdade social, a música de MC Carol fará sentido por muitos e muitos anos.