Marighella faria hoje 108 anos, data que será lembrada com debate no Sindicato dos Advogados de São Paulo

Atualizado em 5 de dezembro de 2019 às 8:45
Marighella viveu em Salvador até 1936, quando foi transferido para o Rio de Janeiro, tornando-se militante profissional do PCB / Arte: Fernando Bertolo/Reprodução/Brasil de Fato

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR MARIANA LEMOS

Nascido na madrugada do dia 5 de dezembro de 1911 na cidade de Salvador (BA), o ex-guerrilheiro Carlos Marighella completaria 108 anos de vida nesta quinta-feira (5). Para celebrar a data, o Sindicato dos Advogados de São Paulo fará em sua sede, na Rua da Abolição nº 167, a partir das 19h, a exibição do documentário “Torre das Donzelas”, seguido de debate com a participação de ex-guerrilheiras – entre elas Cida Costa, que integrava a Aliança Libertadora Nacional  (ALN).

Aton Fon Filho, ex-militante da ALN, e o sociólogo Marcelo Buzzeto participarão de uma entrevista ao vivo no Canal Panelaço no YouTube, às 20h, sobre a memória e o legado do revolucionário baiano.

Conhecido na infância pelo apelido “Carlinhos”, Marighella morou com os pais e com os outros seis irmãos na Rua Barão do Desterro, na Baixa dos Sapateiros. Viveu lá até ser transferido de Salvador para o Rio de Janeiro (RJ), em 1936, para atuar no Partido Comunista Brasileiro (PCB).

A mãe dele, Maria Rita, era filha e neta de negros Haussás, também chamados de Malês – “escravos africanos trazidos do Sudão e afamados na história das sublevações baianas contra os escravistas”, como escreveu o próprio Carlos anos mais tarde.

Augusto Marighella, o pai, era um operário italiano da região de Ferrara, que veio ao Brasil influenciado pelas ideias anarquistas e em busca de melhores condições de vida.

Marighella teve uma vida intensa e, como ele mesmo dizia, “não teve tempo para ter medo”. O idealizador e dirigente da ALN passou a maior parte da sua vida na clandestinidade: deixava claro que o compromisso com os ideais de igualdade e liberdade não permitiam que ele fosse um homem livre, em meio a governos autoritários.

O “Preto”, como era carinhosamente chamado pelos seus companheiros, teve uma vida de “mil faces”. Viajou por muitos estados brasileiros e a vários países para conhecer experiências comunistas, foi deputado constituinte, enfrentou prisão e tortura pelo menos quatro vezes, foi descrito como “inimigo número 1 da ditadura militar” e foi perseguido até sua morte.

Marighella amou, chorou, riu e fez rir. Marighella lutou e tombou assim.

Na noite de 4 de novembro de 1969, uma emboscada planejada pelo delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Sérgio Paranhos Fleury, resultou no assassinato do revolucionário, com cinco tiros no peito, na Alameda Casa Branca, em São Paulo (SP). Marighella não teve tempo para se defender. Foi enterrado como indigente e mais tarde, os restos mortais foram transferidos para Salvador, sob um túmulo criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A imagem tem a silhueta marcada com cinco tiros no peito, acompanhada da frase “Não tive tempo para ter medo”.