
Um grupo de intelectuais brasileiros, incluindo nomes como Marilena Chauí, Vladimir Safatle e Paulo Sérgio Pinheiro, divulgou um manifesto em que defendem a suspensão imediata das relações comerciais e militares entre o Brasil e Israel. O texto, publicado na edição impressa da Folha de S.Paulo, critica a atuação israelense em Gaza, no Líbano, na Síria, no Iêmen e no Irã, e acusa o país de violar o direito internacional com ações sistemáticas que configuram genocídio contra o povo palestino.
Os autores apontam que os recentes ataques a civis, jornalistas e agências humanitárias, além da ofensiva não provocada contra o Irã, colocam em risco a segurança internacional e fragilizam a ordem jurídica global. O grupo alerta que a omissão de países diante dessas ações representa cumplicidade com crimes de guerra, e que sanções econômicas são uma medida legítima e necessária para pressionar o governo israelense a encerrar as agressões.
O manifesto cita o exemplo de países como Espanha, Reino Unido, Irlanda, Turquia e Sérvia, que já anunciaram restrições comerciais ou embargos militares contra Israel. Até empresas privadas, como a gigante Maersk, romperam contratos com companhias ligadas a assentamentos ilegais. Segundo os signatários, essa é uma tendência crescente que o Brasil deveria seguir como nação comprometida com os direitos humanos.

Os intelectuais também criticam o Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e Israel, argumentando que o acordo não respeita sua própria cláusula de exclusão de produtos vindos de assentamentos. Para o grupo, manter esse vínculo, além de contradição jurídica, representa um endosso tácito às violações cometidas por Israel.
O documento destaca ainda que o Brasil tem adotado posições importantes nas votações da Assembleia Geral da ONU e no apoio a ações em curso na Corte Internacional de Justiça, mas que é preciso ir além das palavras e adotar medidas concretas. Para os autores, o rompimento comercial e militar seria um gesto político claro de repúdio ao genocídio em curso e de defesa do direito internacional.
Além de Chauí, Safatle e Pinheiro, o manifesto é assinado pelos professores Leda Paulani, Carlo Augusto Calil, Arlene Clemesha e Paulo Casella, todos ligados à Universidade de São Paulo (USP). Segundo eles, o Brasil deve agir como liderança regional e assumir uma postura ativa diante do que classificam como a mais grave crise humanitária da atualidade.