Destaques

Marina promete acabar com as “boiadas” durante cerimônia de posse

Marina durante cerimônia de posse. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Por Murilo Pajolla

Quinze anos após ter deixado o cargo, Marina Silva voltou a assumir nesta quarta-feira (4) o comando da área ambiental do país. Na cerimônia que lotou o Palácio do Planalto, a ambientalista disse que, a partir deste ano, a pasta se chamará Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, mantendo-se a sigla MMA.

Marina anunciou “um novo momento na gestão socioambiental do país” e se comprometeu a fazer praticamente tudo ao contrário do que fez Jair Bolsonaro (PL), gestão marcada por recordes de devastação ambiental. Ela prometeu trabalhar em conjunto com servidores, ativistas e pesquisadores, setores escanteados nos últimos quatro anos.

“Boiadas passaram onde deveriam ter passado apenas políticas de preservação ambiental”, afirmou a ex-seringueira. Ela prometeu que o Brasil deixará a condição de pária ambiental no cenário internacional e anunciou a criação de uma secretaria voltada à bioeconomia.

Brasil terá Autoridade Climática

A ministra afirmou que até março será formalizada a criação da Autoridade Nacional de Segurança Climática submetida ao MMA, uma das reivindicações apresentadas por Marina ao presidente Lula.

Haverá também a criação de um conselho para definir políticas do setor que será comandado pelo presidente Lula, com participação de todos os ministérios, da sociedade civil, além dos estados e municípios.

“O papel do MMA não é ser um entrave às justas expectativas de desenvolvimento econômico e social de nossa população. Mas de um facilitador, sem perda de qualidade, para orientar a forma como essas expectativas podem ser atendidas, sem prejuízo da necessária proteção de nossos recursos naturais”, declarou Marina.

Uma das ambientalistas mais aclamadas do mundo, a acreana que atuou ao lado de Chico Mendes disse que o combate às mudanças climáticas será prioridade. E anunciou a volta ao MMA de áreas que haviam sido retiradas da pasta por Bolsonaro, como o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e a Agência Nacional de Águas (ANA).

“Teremos uma governança climática robusta e transversal, com participação de todas as instâncias governamentais nos três entes da federação e representantes de toda a sociedade”, anunciou.

“Servidores serão respeitados”

A ministra confirmou ainda a criação de uma secretaria extraordinária do Controle do Desmatamento e de Ordenamento Territorial e Fundiário e mandou um recado aos servidores do MMA. “Basta de perseguição, basta de assédio. Vocês [servidores] merecem e serão respeitados”.

Marina aproveitou a cerimônia de posse para homenagear lideranças assassinadas durante a gestão Bolsonaro, entre eles Bruno Pereira, Dom Phillips e Jonildo Guajajara. “Símbolos tristes desse período recente”, disse a ministra.

“Conceitos modernos como o da justiça climática e do racismo ambiental farão parte da agenda e dos paradigmas que orientarão as nossas políticas”, declarou Marina. “Os mais vulneráveis [às mudanças climáticas] serão sempre a população preta, os povos indígenas, as mulheres pobres chefes de família e as pessoas que vivem em situação de risco”, afirmou.

“Herança maldita” de Bolsonaro desafiará Marina

O principal desafio de Marina Silva será estabelecer as bases para o Brasil atingir o desmatamento zero até 2030, uma promessa de campanha de Lula, além de driblar a “herança maldita” deixada por Bolsonaro no setor.

Após o resultado das eleições, houve uma corrida pela destruição da floresta em redutos bolsonaristas da Amazônia. O aumento recordes nos índices de desmatamento em Rondônia e Acre, por exemplo, entrarão na conta do desmatamento do primeiro ano de Lula, já que o índice oficial medido pelo Inpe é calculado entre julho e agosto do ano seguinte.

Na posse, Marina anunciou que seu secretário-executivo será o ambientalista João Paulo Capobianco, um dos responsáveis pelas políticas que derrubaram o desmatamento em mais de 80% na passagem anterior de Marina pelo MMA.

Com Marina à frente da área ambiental, o governo Lula terá que reestruturar órgãos como Ibama e ICMBio, desmontados por Bolsonaro. As autarquias sofrem com o subfinanciamento crônico e déficit de servidores.

A ministra terá ainda que consertar o estrago na imagem ambiental do Brasil no exterior. Bolsonaro passou quatro anos se esquivando de cobranças por aumentos recordes no desmatamento, que ameaçam a vida das populações tradicionais dos biomas e transformaram o Brasil em um inimigo da estabilização do clima.

Outra obstáculo do governo no setor é o enfrentamento do crime ambiental, consolidado sob Bolsonaro. Setores do agronegócio e da exploração ilegal de recursos naturais apostaram nas invasões de terras públicas, diante da expectativa de regularização, e fortaleceram milícias rurais que atuam contra camponeses pobres e fiscais ambientais.

Publicado originalmente no Brasil de Fato

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Diario do Centro do Mundo

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Diario do Centro do Mundo

Recent Posts

FAB vê dificuldade logística para entregar doações no RS

A Força Aérea Brasileira (FAB) identificou uma série de desafios logísticos na distribuição de doações…

25 minutos ago

PF encontra pista sobre motivação do assassinato de Marielle no celular de Brazão

Um print encontrado no celular de Domingos Brazão é considerado pela Polícia Federal (PF) e…

43 minutos ago

A catástrofe no RS, os saqueadores, o cavalo no telhado e as ratazanas. Por Moisés Mendes

Um homem pegou uma picareta e, para acabar com o barulho que o incomodava, destruiu…

2 horas ago

VÍDEO – Jorge Seif aparece bêbado em live e vira piada nas redes: “Desliga isso”

O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) fez uma live na última quinta-feira (9) comentando as…

2 horas ago

Caso Marielle: Major Ronald ajudou definir data e local do crime, diz PGR

Ronald Paulo de Alves Pereira, o Major Ronald, foi apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR)…

3 horas ago

“Perigo extremo’: RS volta ter temporais com ventos até 90 km/h a partir desta sexta

O Rio Grande do Sul está sob um aviso de "perigo extremo" devido à previsão…

3 horas ago