Marta deve ser candidata a prefeita de São Paulo, mas não pelo PT

Atualizado em 27 de novembro de 2019 às 8:22
Marta Suplicy. Foto: GERVÁSIO BAPTISTA/AGÊNCIA BRASIL

Marta pode ser candidata a prefeita de São Paulo no ano que vem — mais provável é que seja —, mas não pelo PT. É que a chance de ela voltar ao antigo partido é próxima de zero.

Não que Marta não aceite se filiar outra vez ao PT, a militância do partido é que receberia muito mal a sua volta, depois de seu papel no movimento que levou à queda de Dilma Rousseff.

“Ainda está muito vivo na memória o papel dela no golpe”, diz o deputado Paulo Teixeira, que foi secretário na gestão de Marta e é um dos líderes da Resistência Socialista, tendência petista que sucedeu o Mensagem ao Partido.

Membros de outras correntes do PT, como a majoritária Construindo um Novo Brasil, também não creem na volta de Marta ao partido.

Como, então, interpretar os acenos de Lula a antiga aliada?

Lula disse que Marta foi a melhor prefeita que São Paulo teve.

“Eu tenho uma profunda relação de amizade com a Marta. Não misturo relação pessoal com política. Posso ter qualquer divergência, não misturo. A Marta fez muito pelo PT, foi a melhor prefeita que São Paulo teve. Se quiser voltar, da mesma forma que saiu, ela pede pra entrar”, afirmou, em entrevista ao Nocaute.

Para petistas, a declaração de Lula foi fruto de sua generosidade. Mas não só. Com a declaração, o ex-presidente acenou a forças políticas que estão fora do PT, mesmo aquelas que, num momento agudo da história do Brasil, se aliaram ao campo adversário.

Marta foi ativa no golpe, mesmo antes de iniciar o processo de impeachment.

No segundo semestre de 2015, quando trocou o PT pelo MDB, ela tentou convencer Gabriel Chalita, então no partido de Michel Temer e secretário de Fernando Haddad, a apoiar o golpe.

“Michel Temer será presidente e você será ministro da Educação”, disse. O processo de impeachment só seria aberto três meses depois, e Marta, então senadora, já estava no campo de batalha.

Ela queria o apoio de Chalita à sua pré-candidatura a prefeita pelo MDB, costurada por Temer. Chalita tinha assumido com o próprio Temer um compromisso com Lula e Haddad.

Pelo acordo, Chalita se tornou secretário de Educação de São Paulo e, em troca, o MDB apoiaria a reeleição de Haddad.

Chalita seria o candidato a vice.

Temer não honrou o compromisso, mas Chalita se manteve firme, ainda que essa posição tenha prejudicado sua trajetória política.

Lealdade, em situações assim, é um ativo raríssimo.

Chalita trocou o MDB pelo PDT, e foi vice de Haddad, numa eleição em que João Doria, favorecido pela Lava Jato e o Power Point de Deltan Dallagnol, se elegeu no primeiro turno.

Hoje, o PDT namora Marta e é por esse partido que ela deve ser candidata a prefeita. Dificilmente se elegerá, mas se manterá como força política.

No segundo turno, Marta e o PT devem estar juntos, e aí se entenderá melhor o gesto de Lula: desde já, ele semeia a união para derrotar a direita na maior cidade do país.

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PS: No PT, são vários os nomes cotados para a candidatura a prefeito: além de Paulo Teixeira, são cogitados Alexandre Padilha, Jilmar Tatto e Eduardo Suplicy.

Há um grupo que gostaria de ter Haddad como candidato, mas ele prefere não concorrer.

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O papel de Marta no golpe contra Dilma deve ser visto como uma decisão política, mas não só. Há algo pessoal nessa questão. Marta, que alimentava o desejo de suceder Lula, em 2010, tinha uma relação tensa com Dilma. Tanto que, em 2014, na campanha da reeleição, ela, apesar de senadora, foi convidada a descer do caminhão de som em um ato realizado em Osasco. Dilma discursava, e o argumento usado para que saísse é que o caminhão tinha muita gente. Marta culpou Dilma, e nunca a perdoou por isso.