Marta não abandonou a política. Traiu os eleitores e foi abandonada. Por Helena Sthephanowitz

Atualizado em 6 de agosto de 2018 às 15:05
Fim melancólico: senadora Marta Suplicy saiu do PT, aliou-se a Cunha e a Temer para derrubar Dilma e acaba abandonada pelo próprio MDB.

Publicado na Rede Brasil Atual

POR HELENA STHEPHANOWITZ

Três anos depois de ser recebida de braços abertos no PMDB (agora MDB) por gente como Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer e companhia e de ser denunciada e investigada no STF – acusada de receber recursos não contabilizados para campanhas eleitorais –, a senadora por São Paulo Marta Suplicy divulgou uma “carta aos paulistas”, nesta sexta-feira (3), na qual comunicou sua desfiliação e a desistência de disputar a reeleição ao Senado, e por último, que está abandonando a política. Em nota que divulgou à imprensa (leia aqui), ela diz genericamente que, encerrado seu mandato, vai passar a atuar na “sociedade civil”. Na mesma carta, a senadora criticou partidos políticos, o toma lá dá cá, a ocupação de cargos no Executivo, mas em momento algum fez críticas ao MDB ou a Temer, com quem diz ter boas relações.

Na cerimônia de filiação ao partido – depois de sair atirando contra o PT –, Marta discursou: “O PMDB quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais”. E afirmou: Temer “vai reunificar o país”.

Recordista de impopularidade, sem credibilidade, alvo de dois inquéritos e três denúncias criminais, Temer não pacificou, muito menos unificou o país. Mas uniu 83% dos brasileiros, contra si mesmo. E só não caiu porque financiou sua permanência na presidência com dinheiro público.

Mas essa não foi a causa da desfiliação da senadora emedebista. Jornalistas que cobrem os bastidores da política em Brasilia publicaram algumas vezes que a senadora vinha se queixando da falta de prestígio no partido e reclamou de não ter sido nem ao menos cogitada para ser vice do candidato ao governo paulista Paulo Skaf (MDB). Também teria pesado na decisão a última pesquisa do Ibope, divulgada em julho, mostrando Marta Suplicy em terceiro lugar na disputa deste ano ao Senado.

Pela lealdade que jurou a Temer, Marta traiu seus eleitores e a própria democracia, quando votou pelo impeachment da presidenta Dilma no Senado, em maio de 2016. Em uma entrevista após a votação a senadora declarou: “Meu voto pelo impeachment não é relevante para o eleitor da periferia”. Um mês depois, a senadora foi ao bairro de Guaianases, periferia da capital paulista, sondar a aceitação de sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Encontrou justamente os eleitores que ela achou que não se incomodariam com seu voto que ajudou derrubar Dilma. Ouviu críticas severas pelo fato – e pelas razões – de ter deixado o PT e foi chamada de traidora. Saiu derrotada.

Certamente, essa população da periferia mostrou não confiar em quem participou do golpe. E muito menos em quem votou contra os trabalhadores, ajudando a aprovar, por exemplo, a “reforma” trabalhista proposta por Michel Temer, que está destruindo a rede de proteção aos direitos dos trabalhadores do país.

O modo como Marta Suplicy cavou o buraco em que se meteu lembra a derrocada de Fernando Gabeira, que fez carreira política no PV e no PT. Com o processo do chamado “mensalão”, entrou no barulho da “grande mídia”, e resolveu bandear-se para os lados do DEM, PSDB, PMDB e nanicos similares, virou ídolo da imprensa e capa da revista Veja, mas perdeu todas as eleições a que se candidatou, tanto para prefeito, como para governador do Rio de Janeiro. Acabou no PIG (Partido da Imprensa Golpista), e agora tem um programa na GloboNews.

Marta Suplicy, por sua vez, fez toda a sua carreira política no PT, pelo qual se elegeu prefeita de São Paulo, fazendo um bom governo, mas depois disso perdeu a eleição para a prefeitura três vezes, em 2004 e 2008. Dentro do PT passou a perder também disputas internas e, má perdedora, não aceitou o resultado da maioria. Quis ser candidatar à prefeita de São Paulo em 2016, mas o PT já tinha escolhido Fernando Haddad como candidato à reeleição. Foi o que a fez mudar-se para o PMDB, pelo qual concorreu à prefeitura paulistana, perdendo para Haddad.

Se Marta simplesmente tivesse decidido procurar outro partido e ir à luta, fazendo críticas honestas ao PT, tudo bem, direito de escolha dela. O problema é que, como Gabeira, ela resolveu ir para a oposição da direita raivosa, cuspindo no prato em que havia comido (e bem), atirando para todos os lados: contra Dilma, contra Lula, contra companheiros de partido, por “esperteza”, para ganhar generosos espaços na imprensa partidária .

O problema não é fazer críticas, é fazer o jogo de quem luta contra a melhoria de vida dos trabalhadores e dos mais pobres. É fazer pacto de poder com a Globo, com a Veja, como fez Gabeira, ou com o Itaú, como fez Marina Silva, traindo as lutas do passado. Tudo por ambição pessoal de poder.

Como dizia Brizola, “a política ama a traição, mas abomina os traidores”. Os votos dos eleitores da direita, de São Paulo ela não ganhou e não ganhará mais. Os votos petistas ela não levou para o MDB. Talvez, pelo menos, garanta um lugar ao lado de Gabeira na GloboNews.