Marta versus Mantega

Atualizado em 2 de janeiro de 2015 às 22:12

marta e mantega

 

Minha amiga Maristella Debenest falava sobre duas ausências previsíveis na posse de Dilma e na diferença de caráter dos dois personagens. Referia-se a Marta Suplicy e Guido Mantega.

Mantega ficou oito anos no Ministério da Fazenda e foi fritado nos últimos meses. Acabou demitido por Dilma em setembro, numa entrevista em que ela falou em “governo novo, equipe nova”.

O chefe da política econômica do segundo governo Lula e do primeiro mandato de Dilma sempre teve um perfil baixo. Disse a amigos agora que deseja voltar a dar aulas na FGV, em São Paulo. Não deu entrevistas bombásticas, não atirou, não saiu culpando o diabo e as circunstâncias.

Marta, no extremo oposto, parece fazer um esforço enorme para confirmar o que sugerem as aparências: trata-se de um pote até aqui de mágoa.

Primeiro a saída histriônica da Cultura, com comunicado no Facebook, enquanto a chefe se encontrava no Catar. O texto autoelogioso aproveitava para dar uma cotovelada em Mantega. “Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora [Dilma] seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada”, escreveu.

Diante da nomeação de Juca Ferreira para seu lugar, novo “desabafo”, desta vez com direito a um chute em Alexandre Padilha (responsável por anunciar Ferreira). “A população brasileira não faz ideia dos desmandos que este senhor promoveu”, denunciou.

Os “desmandos” de Juca Ferreira merecem ser conhecidos da sociedade, de preferência de maneira detalhada e responsável. O que Marta está fazendo, no entanto, é causar barulho e confusão de modo a aparecer e, em última análise, ser expulsa como mártir.

Em 2012, ao assumir a pasta, Marta elogiou publicamente Ferreira, afirmando que “o Ministério da Cultura mudou paradigmas, se organizou com uma nova estrutura e visão nacional”.

Ela quer tentar a prefeitura de São Paulo em 2016, pelo PT ou pelo PMDB. O projeto de Marta é Marta. Não é o primeiro caso de político arrogante e vaidoso e não será o último, mas é um marco. Sua obra não resiste a sua atitude.

Ao contrário de Mantega, Marta não vai escrever um livro ou dar aula seja lá onde for. Sua ambição indica um caminho parecido com o de Marina Silva — não necessariamente em número de votos, mas no que diz respeito ao rancor que move sua carreira.