Matias, o menino negro fotografado com um boneco de “Star Wars”, foi a Hollywood. Por Cidinha da Silva

Atualizado em 10 de janeiro de 2016 às 15:54
Matias Melquíades e Finn, o heroi de "Star Wars"
Matias Melquíades e Finn, o heroi de “Star Wars”

 

Em tempos de comunicação-relâmpago pela Web, a imagem viralizada do garoto Matias Melquíades com o Finn, personagem de Star Wars, chegou à caixa postal de John Boyega, seu intérprete no cinema. Junto com a fotografia digital alguma notícia sobre o debate em torno da representatividade negra desencadeado no Facebook e em outras mídias do país, tais como jornais impressos de grande circulação.

Sensibilizado, John Boyega postou o retrato do menino portando o boneco e escreveu no Instagran: “Tempo para ser grato. Do que você carrega nas mãos ao potencial da sua mente, você é um rei homem jovem (ou pequeno homem)”. Sim, ele disse “young man”, não disse “little boy”.

Os homens negros afirmados dos EUA se chamam de “man”, tenham a idade que tiverem. Desconstroem assim a expressão “boy” do tempo do escravismo e mesmo do período posterior de segregação legal, utilizada para inferiorizar os homens negros de qualquer idade, de crianças a velhos.

Imagine um senhor de 60 anos, pai, avô, sendo tratado pelo patrão como “boy”, na frente de seus netos. “Hei boy sele meu cavalo”. “Boy descarregue a carroça”. Imaginou? Lembrou-se de algum filme? Era uma estratégia racista para humilhá-los, para subalternizar a masculinidade daquelas pessoas, dependentes economicamente, do trabalho oferecido pelos brancos. Submetidos a leis também elaboradas pelos brancos.

A mensagem do ator a Matias enfatiza um sentimento de pertencimento à mesma comunidade de destino, ao Ubuntu, que começa a tomar corpo entre nós. Palavra de origem banto, tronco linguístico espalhado por grande parte da África, Ubuntu é comumente traduzida como “eu sou porque você é”.

O Finn, representado por Boyega, homem negro inglês, é referência de imagem positiva e semelhante para Matias, garoto negro brasileiro. O menino, por sua vez, com os olhos encantados pelo boneco inspira Boyega e o fortalece frente aos questionamentos racistas de “terem introduzido um negro” na saga de Star Wars. Todo mundo se lembra do debate instaurado com a escolha do ator para o papel, não é?

O diálogo entre dois negros desconhecidos, um jovem e uma criança, via redes sociais, a partir de um filme que tem um personagem negro, gerador de um boneco que deixa uma criança feliz por ser parecida com ele, empresta ao mais-velho o sentimento de missão cumprida. No mais-novo, deve despertar sensações múltiplas de poder ser, sonhar, querer e alcançar mais do que foi imaginado.

E se o tempo anterior de Boyega foi de rejeição, sofrimento, desrespeito a sua condição de ator por ser negro, agora é de agradecimento à roda da vida porque a construção dramatúrgica do Finn fortaleceu a representação negra positiva na mente de Matias e de milhões de outras crianças negras mundo afora. É tempo de Ubuntu porque Finn está protegido como símbolo de realeza nas mãos do menino-rei.