O ex-comandante do Exército, General Freire Gomes, compartilhou com confidentes que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), juntamente com militares da reserva e seu entorno, apelou às Forças Armadas por uma intervenção após a eleição de Lula (PT).
Segundo oito oficiais-generais consultados pela Folha de S.Paulo, essas comunicações ocorriam em conversas pessoais, sem a ciência do Alto Comando da Força. Freire Gomes, caracterizado como discreto, assegurou que o Exército não se envolveria em tais ações.
Durante novembro e dezembro, pós-vitória de Lula, Bolsonaro convocou Freire Gomes e outros ex-comandantes para várias reuniões no Palácio da Alvorada.
Estas reuniões eram organizadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, e não constavam da agenda oficial. Na CPMI do 8 de janeiro, o general Heleno declarou que Mauro Cid não participava de reuniões com o alto comando. Mentiu.
A primeira ocorreu em 1º de novembro, centrada em discussões sobre bloqueios de rodovias e manifestações pró-Bolsonaro. Não havia sempre uma pauta definida, Por vezes, o ex-presidente buscava apenas diálogo com os chefes militares.
Em certas ocasiões, a intenção golpista de questionar ou reverter os resultados eleitorais era explicitamente defendida por Bolsonaro e seus aliados militares. A postura do Exército contra tais planos emergiu de conversas espontâneas entre generais e consultas de representantes estrangeiros à cúpula militar.
Diplomatas dos EUA e do Reino Unido realizaram reuniões secretas com generais brasileiros, expressando oposição a qualquer ruptura democrática. Alertas internacionais sobre preocupações com o cenário brasileiro já haviam sido feitos, inclusive pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin.
Marco Antônio Freire Gomes estava destinado a assumir uma posição no Superior Tribunal Militar (STM) quando foi convidado por Bolsonaro para liderar o Exército em 2022. Bolsonaro havia alterado a dinâmica nas Forças Armadas em 2021, demitindo chefes militares e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo.
Freire Gomes expressou desejo de deixar o cargo antes da posse de Lula, prometendo colaboração na transição para o General Arruda, que acabou demitido por Lula em meio a uma crise de confiança.
As tentativas de Bolsonaro de articular planos golpistas foram detalhadas na delação de Mauro Cid à Polícia Federal. Segundo Cid, o comandante da Marinha, Almir Garnier, demonstrou apoio às intenções golpistas, uma posição que contrariou outros almirantes.