McBobeira: por que o McDonald’s é bom para os viajantes com saudade de casa

Atualizado em 11 de setembro de 2012 às 19:06
A loja de Yangshuo, na China: eles amam muito tudo isso

Um dos símbolos mais demonizados da globalização é a rede de lanchonetes McDonald’s, com seu M amarelo ubíquo e seu palhaço esquisitão. São 31 mil restaurantes em 119 países. Mochileiros radicais e puristas do ato sagrado de viajar pelo mundo acreditam que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um frequentador do Mac entrar no reino dos verdadeiros viajantes. Embora não seja um fã de fast-food, eu gosto de comer um Big Mac, eventualmente, quando estou fora do país. Principalmente quando estou com meus filhos, Armandinho e Jinecey,e com pouca grana. Qual poderia ser o grande pecado, eu não entendo.

Na Islândia: Big Mac e carne de baleia

Se você tem saudade de algo familiar e está em Sydney, por que não encarar um McChicken? Porque, segundo a Igreja da Viagem Autêntica, isso é dar dinheiro para os imperialistas e conspurcar a missão da jornada divina. Viajante de verdade come em um bistrô de segunda categoria, cujo dono é também o garçom e atende de mau humor e com as unhas sujas. Mal sabem eles que, não, nem todo McDonald’s é igual e, sim, eles servem pratos típicos. Na Islândia tinha carne de baleia e de uma ave chamada papagaio-do-mar. No Canadá é servida a pouttine, batata frita coberta com cheddar e molho de ervas. Na Costa Rica tem arroz e feijão. Em Israel servem o McKebab, no Chile o hambúrguer pode vir com cobertura de abacate e no Havaí tem presunto enlatado.

Assim como uma experiência na Itália será diferente para você e para mim, ainda que visitemos as mesmas ruínas romanas, uma experiência gastronômica também nos enriquecerá de maneiras distintas. Claro que é fundamental, em uma viagem, provar a cultura do lugar, os hábitos, a arte, a língua. Mas, se, na hora da fome, você estiver passando em frente a um McDonald’s e não resistir a um McNuggets, isso não fará de você um alienado, mas um turista inteligente e sem fome.

Jota Pinto é autor do livro Confissões de Um Turista Profissional (Novo Contexto). Jota vai falar de suas viagens pelo mundo. Mineiro, fumante, heterossexual com uma escorregada em Paris nos anos de 1970. Ex-militante da organização terrorista Var-Palmares. Fundador, com Carlinhos de Jesus, da Academia de Dança Acadêmicos da Profilaxia. Reúne 253 destinos e alguns desatinos carimbados em seu passaporte. Casado em quintas núpcias com uma prima bem mais nova.