“Me acham maluca, mas estou observando tudo – de dentro e de fora”: o último desabafo e a ira santa de Fernanda Young

Atualizado em 25 de agosto de 2019 às 12:20
Fernanda Young

A escritora Fernanda Young morreu aos 49 anos na madrugada deste domingo. 

Teve crise de asma e parada cardíaca. Estava no sítio com da família em Minas Gerais.

Fernanda não agradava a todos, mas era impossível ficar indiferente a ela. Aí residia sua arte e seu estilo.

Dois dias antes de morrer, postou no Instagram um desabafo. Ira santa.

Avisou: “Texto escrito no ônibus. Ganho para escrever. Aqui ofereço de graça e com erros”.

Eis Fernanda Young. RIP:

As pessoas me acham maluca, mas estou observando tudo – de dentro e de fora. Pensam que não percebo as suas falcatruas, mas ser gentil não significa ser otaria!

Trabalho feito uma vaca, pago essas merdas desses impostos, não vejo uso para eles, escuto que mamo em tetas do governo; divirto as pessoas, ofereço poesia, e lido com ignorâncias proferidas por um bando de escroto que mete Deus nos seus discursos hipócritas.

Deito e levanto cansada porque nunca peguei um centavo de ninguém e tudo o que tenho é fruto de TRABALHO. Não herdei, não ganhei, nem sou sustentada!

Tenho 4 filhos que estão aprendendo a serem éticos e livres. E o que ouço? É louca! O que vejo?

A nossa cultura material e imaterial, a nossa língua, a nossa fauna, flora, sendo esganiçada, sacaneada, por ogros maléficos. Estamos virando uma gente porcaria, afinal “piorar é mais fácil”!

E fica tão claro o oportunismo das ratazanas sorrateiras, que veem na “loucura do criador”, achando-nos dispersos, irresponsáveis, ricos, nesgas para sermos passados para trás! Comigo, não! Não!

Sei reconhecer um lápis meu em meio a um milhão! Não estive “calada nos últimos 14 anos”, não aceito desaforo! Sou uma mulher de 50 anos que sonhou alto e realizou muito.

E estou longe de encerrar a minha jornada nessa orbe! Aos que se interessam: bom proveito. Para os outros: estou pouco me lixando!