“Me jogaram no chão de uma sala, sem água”: torcedor do Corinthians relata sua prisão após protesto contra Bolsonaro

Atualizado em 6 de agosto de 2019 às 9:23
O torcedor Rogério Lemes Coelho

PUBLICADO NA PÁGINA DO FACEBOOK DO COLETIVO DEMOCRACIA CORINTHIANA

TORCEDOR CONTA COMO FOI REPRESSÃO BRUTAL SOFRIDA NA ARENA CORINTHIANS

Pela equipe de comunicação do Coletivo Democracia Corinthiana

Quem é o Rogério Lemes?

Sou trabalhador e sou corinthiano de coração. Vendo portas e janelas no bairro do Brás, na Zona Leste.

O que ocorreu neste domingo, 4 de Agosto, na Arena Corinthians?

Entrei no estádio e logo depois gritei algumas palavras contra Bolsonaro, um cidadão que ofende a nossa democracia. Quase imediatamente, fui surpreendido por trás, com um mata-leão, dado por um policial militar.

Você reagiu?

Não, foi tão forte que me faltou ar e eu desfaleci, caindo no chão. Veio outro policial e me algemou, machucando meus pulsos. No total, creio que quatro participaram da repressão.

Você tentou fugir ou fez algo que justifique a violência?

Não, nada fiz. Tenho uma prótese de fêmur na perna esquerda e minha locomoção é muito limitada. Nem que eu quisesse poderia oferecer resistência.

O que mais fizeram?

Um policial, na maldade, torceu meu dedo médio da mão esquerda. Está doendo muito até agora.

E para onde o levaram?

Para uma sala sem água, quase sem nada e me jogaram no chão. Eu não podia me levantar por causa da limitação física. Com fortes dores, pedi ajuda, mas responderam com mais ofensas.

O que diziam?

Durante 40 minutos, fiquei lá. Entravam policiais e gritavam coisas do tipo: “e aí, você não é valentão, quem mandou xingar o nosso presidente?” Foram vários que entraram e gritaram frases para me intimidar.

E o que sentiu?

Senti que eles eram movidos por muito ódio, agressividade e maldade. Enfim, quem apoia esse cara, acaba reproduzindo o jeito dele.

E ficou lá por quanto tempo?

Acho que foi até o intervalo, porque naquela hora chegou um suposto investigador e falou para outro cara: “acabou o primeiro tempo e estamos perdendo”. Fui levado até a sala da delegacia do estádio e me colocaram diante de uma delegada. Perguntei que crime eu tinha cometido. Ela disse que nenhum crime, mas que aquele era o procedimento padrão adotado contra quem se manifestasse.

E nesse tempo todo, o que mais ocorreu?

Tomaram o meu relógio e também o meu celular, que só devolveram depois.

E quando te liberaram?

Só me liberaram faltando dez minutos para o fim do jogo. Vi cinco minutos da partida, mas já sem cabeça para isso. É um terror psicológico muito grande, muita maldade. Eu pedia ajuda por causa da perna e eles diziam: “foda-se”.

Você pensar em pedir uma reparação na Justiça?

Quase não dormi na noite de domingo para segunda. Muito terror psicológico, muita indignação. Estou com medo e temo represálias. Porque isso tudo é a falência do Estado. Acho que não tenho como recorrer, porque sou um simples cidadão, e eles têm todo o poder.