São Paulo e cidades vizinhas amanheceram submersas nesta segunda-feira após algumas poucas horas de chuva ininterrupta.
Embora certamente ouviremos e leremos ao longo de todo o dia afirmações do tipo “choveu mais do que o previsto” ou mesmo diagnósticos estupendos como o do prefeito de Belo Horizonte em situação semelhante (“Essa água veio do céu”, disse ele há poucas semanas), a verdade é que esse desastre tem o dedo de João Doria.
Ainda no ano passado, o governador Doria extinguiu órgãos que regulamentavam e fiscalizavam setores ligados ao urbanismo e ao meio ambiente.
Uma empresa como a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.) era essencial para o planejamento urbano.
Era com dados dessa estatal que os PDUIs (Planos de Desenvolvimento Urbano Integrado) eram abastecidos de informações técnicas que orientavam a ocupação do solo.
A Emplasa tinha um enorme acervo de mapas, relatórios técnicos e sistemas de informações fundamentais para o planejamento urbano.
Eram com as informações cartográficas e geoprocessadas produzidas pela empresa que o uso e ocupação do solo, leis de zoneamento, áreas de proteção aos mananciais se baseavam.
Sem a estatal, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Urbano) e o Sistema de Informações Metropolitanas, por exemplo, pararam de ser atualizados.
A extinção da Emplasa se deu em meados de 2019 e até o começo deste ano o governador não tinha decidido para quais outros órgãos públicos seriam transferidos os sistemas de informações e conjunto de acervos.
Isso só foi feito há poucas semanas, sendo que parte das informações, como as cartográficas, foram repassados ao Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC), que disponibiliza somente mapas físicos! Sim, mapas em papel, como nos filmes do Indiana Jones.
Alguma dúvida que isso resultaria em desordem e caos?
Em uma cidade que se expande e se modifica na velocidade de São Paulo, com alto índice populacional, ficar todo esse tempo sem ninguém fiscalizando ou orientando obras que impermeabilizam o solo cada dia mais, não tinha como resultar em outra coisa.
Além da Emplasa, Doria acabou com a Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS) que fiscalizava obras públicas e a Companhia de Desenvolvimento Agrícola (Codasp) que cuidava de barragens.
Ao que tudo indica, Doria pretende trazer para SP os desastres nada naturais que acontecem em Minas Gerais.
A todo momento João Doria vem querendo negar o tal ‘Bolsodoria’ que ele mesmo divulgou. Inegável, porém, que o alinhamento do paulista com aquele outro energúmeno não foi de mero oportunismo de campanha. As medidas administrativas de ambos são similares e desastrosas. Assim como as desculpas esfarrapadas.
Foi graças a Bolsonaro ter extinguido órgãos de fiscalização do meio ambiente que o derramamento de óleo ocorrido no ano passado chegou às praias e resultou naquele desastre gigantesco. Ou que as queimadas na Amazônia ganhassem a proporção que ganharam.
Causa e consequência, simples assim.
85% dos brasileiros moram em áreas urbanas atualmente e estudos estimam em cerca de dez anos o prazo para que mais de 90% da população do país viva em cidades, uma concentração populacional que exige dos ‘gestores’ públicos medidas que suportem a funcionalidade das cidades.
Um Bolsonaro de cashmere, o governador João Doria segue os mesmos passos do desmonte geral de instituições e estatais. Algo que sempre cobra o preço mais cedo ou mais tarde. Depois não adianta vir responsabilizando ‘instabilidades atmosféricas’. O clima nunca foi estável, por natureza.
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