Megaoperação mira Grupo Refit, de Ricardo Magro, o maior devedor de impostos no Brasil

Atualizado em 27 de novembro de 2025 às 8:01
Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro, controlada pelo Grupo Refit. Foto: reprodução

Uma megaoperação deflagrada na manhã desta quinta-feira (27) mirou 190 alvos ligados ao Grupo Refit, atual Grupo Fit, e a dezenas de empresas do setor de combustíveis. A ofensiva, batizada de Poço de Lobato, mobiliza mais de 600 agentes públicos em seis unidades da federação e atinge o maior devedor contumaz do país, acusado de causar um prejuízo estimado em R$ 26 bilhões aos cofres estaduais e federal.

O grupo, comandado pelo empresário Ricardo Magro, é considerado o maior devedor de ICMS de São Paulo, o segundo maior do Rio de Janeiro e um dos maiores da União.

Segundo as investigações, o esquema funcionava há anos “do porto ao posto sem pagar imposto”, combinando fraude aduaneira, sonegação de ICMS, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro por meio de uma complexa rede de holdings, offshores, fintechs, meios de pagamento e fundos de investimento.

A operação, segundo o G1, ocorre em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Distrito Federal. A Refit, antiga refinaria de Manguinhos, havia sido interditada em setembro pela Agência Nacional do Petróleo sob suspeita de irregularidades na importação e venda de combustíveis, inclusive carregamentos provenientes da Rússia, apreendidos pela Receita Federal.

O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira-SP) coordena a ação com apoio da Receita Federal, Ministério Público de São Paulo, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Secretaria da Fazenda e Planejamento de SP, Secretaria Municipal da Fazenda de SP e polícias Civil e Militar.

Força-tarefa contra 190 companhias e pessoas ligadas a empresa de combustíveis apontada como maior devedora de impostos de São Paulo. Foto: Eliezer dos Santos/TV Globo

O comitê, uma espécie de força-tarefa permanente, recupera ativos desviados e combate crimes tributários, econômicos e de lavagem de dinheiro.

As autoridades afirmam que o grupo movimentou mais de R$ 70 bilhões em apenas um ano, utilizando empresas próprias, fundos e offshores, incluindo uma petroleira no exterior, para blindar lucros e simular operações interestaduais. Entre 2020 e 2025, mais de R$ 32 bilhões em combustíveis foram importados com declarações adulteradas para redução de tributos.

Também foram identificados mecanismos para dificultar a cobrança do ICMS, com empresas sobrepostas que trocavam de função quando uma operação era desvendada, criando novos obstáculos investigativos.

O Cira-SP bloqueou judicialmente R$ 8,9 bilhões nas contas dos investigados, enquanto a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional assegurou a indisponibilidade de outros R$ 1,2 bilhão. Ao todo, mais de R$ 10,2 bilhões em bens, imóveis e veículos, já foram bloqueados.

Em entrevista à Folha, em setembro, Ricardo Magro afirmou que suas empresas “não sonegam”, assegurando que negociou débitos no Rio e que, em São Paulo, há apenas “discordância sobre a forma de pagamento”, questionando ainda a concentração de mercado da Petrobras.

As investigações, no entanto, apontam que o grupo opera como organização criminosa, com sofisticada estrutura financeira voltada a fraudar o sistema tributário.

A operação Poço de Lobato homenageia o primeiro poço de petróleo do Brasil, perfurado em 1939 no bairro de Lobato, em Salvador, quando Monteiro Lobato era um dos principais entusiastas da exploração petrolífera nacional.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.