Mendonça está sentado na bomba da Seopi. Por Moisés Mendes

Atualizado em 7 de agosto de 2020 às 9:50
André Luiz Mendonça. Foto: Alan Santos/PR

Há desfechos previsíveis para o caso dos arapongas que bisbilhotaram servidores considerados perigosos militantes antifascistas pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi).

A primeira previsão é esta. A tentativa do Supremo de enquadrar a Seopi, a partir da suspeita de atividades ilegais e antidemocráticas, como observou a ministra Cármen Lúcia, pode fracassar.

O ministro André Mendonça, da Justiça, já mandou dizer ao STF que a Seopi não faz nada de ilegal. E talvez, se forem examinar bem, não faça mesmo ao produzir relatórios com os nomes de servidores que Bolsonaro pode considerar seus inimigos.

A questão aqui talvez não seja de ilegalidade, mas de excesso de autoridade ou de autoritarismo pela tentativa de cadastrar inimigos, como a ditadura fazia.

Outra previsão. Nesta sexta-feira, Mendonça conversa com os senadores e deputados que integram a Comissão Mista de Controle das Atividade de Inteligência.

É uma reunião secreta, mas alguém poderá dizer depois o que rolou, em relação a informações elementares, sem ferir nenhuma norma de segurança. O Brasil precisa saber.

Deve se repetir nessa reunião secreta o argumento que já está no documento enviado por Mendonça ao Supremo. Tudo é normal, mas sigiloso.

Mais uma previsão. Mendonça é candidato a candidato a uma vaga no Supremo. Com o rolo da Seopi, em que ele desafia até mesmo a autoridade do Supremo (ao dizer que não irá compartilhar dossiês com a Corte), pode ser logo um ex-candidato.

O ministro desafia a instituição da qual pretende fazer parte e afronta ao mesmo tempo os senadores, se insistir na enrolação de que dossiê não é dossiê e que a Seopi faz tudo dentro da lei.

Há um argumento furado circulando desde ontem, segundo o qual a Seopi já fazia ações que poderiam ser consideradas de inteligência nos governos do PT. Poderiam, se tratassem de questões que envolvem segurança de Estado.

Inteligência, diria o conselheiro Acácio, é para quem é inteligente. E ninguém será suficientemente imbecil para achar que casos de atividades de defesa do Estado possam ser comparados a bisbilhotagens contra servidores considerados inimigos de Bolsonaro.

Isso é atividade de polícia política, e não de inteligência. Os militares sabem muito bem dessa diferença.

Por que servidores antifascistas poderiam ameaçar a segurança do governo ou de Bolsonaro? Por que seriam tão perigosos a ponto de provocarem a mobilização de arapongas e a produção de dossiês?

André Mendonça está sentado sobre a bomba. Supremo e Congresso (desse último ele depende muito, numa provável sabatina) deveriam ser bajulados, e não afrontados.

É provável que o imbróglio se esgote sem maiores consequências legais e políticas para o governo.

Mas pode ser devastador para alguém que pretende ser ministro do Supremo. Mendonça ficou, sob pressão de Bolsonaro e dos militares, com a tarefa de defender a Seopi a qualquer custo. E o custo para ele pode ser sua pulverização como candidato ao Supremo.

A não ser que o Brasil das inovações volte a inovar e o Supremo tenha pela primeira vez o que não teve nem na ditadura, um ministro que um dia chefiou arapongas encarregados de fazer dossiês sobre servidores públicos que lutam pela democracia e contra fascistas.