Menos drinks e mais cervejas: Bares ficam às moscas após mortes por metanol em SP

Atualizado em 2 de outubro de 2025 às 18:31
Bares na nas esquinas da Rua Aspicueltas com Mourato Coelho, na Vila Madalena — Foto: Edilson Dantas / O Globo

A crise provocada pelas intoxicações por metanol alterou o cenário da boemia em São Paulo. Bares em regiões movimentadas como Vila Madalena e Pinheiros passaram a registrar queda no movimento, enquanto clientes trocaram os drinques por cerveja por medo de bebidas adulteradas. O estado já contabiliza seis mortes e mais de 30 casos em investigação, além de registros em Pernambuco, onde três óbitos também são apurados.

No tradicional bar Boca de Ouro, em Pinheiros, o sócio Renato Martins relatou um movimento atípico, marcado por mesas vazias e clientes desconfiados. Frequentadores antigos, como o economista Chau Kuo, decidiram manter a rotina, mas reconhecem o risco e esperam mais cuidado dos estabelecimentos. Outros consumidores, como Isabel Almeida e Nicole Oshihisa, afirmaram ter optado apenas pela cerveja como forma de prevenção.

Em redes sociais e grupos de mensagens, listas de bares supostamente envolvidos circulam sem controle, alimentando o clima de desconfiança. Diante da repercussão, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) anunciou uma campanha para reforçar protocolos de segurança e cobrou punição rigorosa para quem comercializar bebidas ilegais.

As fiscalizações resultaram na interdição de seis bares em São Paulo e na Grande São Paulo, além da apreensão de centenas de garrafas suspeitas. Em Barueri, foram encontradas 128 mil garrafas de vodca lacradas, cuja procedência será analisada. No caso mais grave da capital, o bar Ministrão foi interditado após uma cliente perder a visão ao consumir um drinque feito com produto adquirido de um vendedor de rua.

Fachada do bar Ministrão, nos Jardins, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A gravidade do episódio também mobilizou autoridades. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alertou que os casos suspeitos podem aumentar e pediu atenção nacional. A Secretaria Nacional do Consumidor notificou estabelecimentos suspeitos e deu prazo de 48 horas para explicações. No Congresso, a Câmara dos Deputados discute um projeto que amplia a pena para falsificação de bebidas de até 12 anos de prisão.

Na Assembleia Legislativa de São Paulo, parlamentares protocolaram projetos que obrigam bares a triturar garrafas de vidro antes do descarte e punem quem vender ou armazenar destilados adulterados. Enquanto isso, parte dos estabelecimentos optou por suspender a venda de coquetéis, aguardando o avanço das investigações para recuperar a confiança dos clientes.