Mensagens mostram donos de hospitais defendendo fim do lockdown para lucrar com UTIs na pandemia

Atualizado em 13 de junho de 2023 às 11:14
UTI do hospital Gilberto Novaes, em Manaus – Foto: MICHAEL DANTAS / AFP)

Mensagens trocadas entre médicos e donos de empresas que forneciam serviços de unidade de terapia intensiva para hospitais públicos de diversos municípios do Mato Grosso revelam que o fim do lockdown era defendido para eles lucrarem com UTIs na pandemia.

As mensagens constam no inquérito sigiloso da segunda fase da Operação Espelho, realizada pela Polícia Civil em 24 de março deste ano. A investigação revela a formação de um suposto cartel para fraudar licitações, desviar dinheiro público e realizar pagamentos indevidos a servidores públicos. A informação é do Intercept Brasil.

Ao todo, são investigadas 10 pessoas e oito empresas que teriam participado do esquema de corrupção que visava lucros indevidos com os contratos de UTIs a partir de 2019. Segundo as investigações, essas pessoas acumularam patrimônios que chegaram a R$33 milhões.

UTI de hospital na capital paulista na primeira fase da pandemia, em 2020 – Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Em uma das mensagens, o médico e empresário Renes Filho indica ao médico Gustavo Ivoglo, dono da L.B. Serviços Médicos, empresa que prestava serviços no Hospital Regional de Alta Floresta, da rede de saúde do estado, que colocou pacientes em UTIs sem necessidade, por conta da ausência de enfermos provocada pelo lockdown na pandemia do coronavírus.

“Se o lockdown não acabar vai ser muito difícil manter a UTI cheia hein cara. Tá subindo uns pacientes lá que já já o pessoal vai questionar a gente do que esses pacientes estão fazendo lá [risadas]”, disse Renes.

Em outra troca de mensagens, Renes Filho disse a Ivoglo para “aceitar paciente sem muito prognóstico” para que os médicos lucrassem com uma “ocupação maior” da UTI em Alta Floresta, que fica localizada a789 quilômetros da capital do Mato Grosso.

“Ta dando um trabalho do cão pra deixar esses leitos ocupados, precisa ver o rolo que eu faço todo dia aqui, mas tá rolando com 100% de ocupação”, escreveu Filho. “aceita paciente sem muito prognóstico, pois infelizmente a gente precisa ter uma ocupação maior”, completou.

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