
A duas semanas do julgamento que pode condená-lo por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro enfrenta novas revelações que ampliam o risco de prisão preventiva. Relatório da Polícia Federal, enviado ao ministro Alexandre de Moraes, mostra que o ex-presidente descumpriu medidas cautelares, tentou obstruir investigações e manteve articulações políticas e financeiras para evitar uma condenação.
A investigação aponta que Bolsonaro enviou mais de 300 mensagens e vídeos pelo WhatsApp após ter sido proibido pelo Supremo Tribunal Federal de usar redes sociais em 21 de julho. Para a PF, a prática tinha como objetivo “burlar a ordem de proibição a retransmissão de conteúdos imposta pela Justiça”, o que caracteriza reiterado descumprimento judicial.

Segundo o relatório, as mensagens disseminadas seguiam o padrão das chamadas “milícias digitais”: alto volume, múltiplos canais, rapidez na difusão e uso de figuras de autoridade para conferir aparente credibilidade às narrativas. Esse modus operandi, segundo os investigadores, reforça o caráter de organização criminosa voltada à desinformação e à coação institucional.
O material recuperado dos celulares apreendidos também revelou um rascunho de pedido de asilo político à Argentina, dirigido a Javier Milei. Para os investigadores, esse elemento comprova risco concreto de fuga, um dos fundamentos previstos no Código de Processo Penal para a decretação da prisão preventiva.


Além disso, áudios atribuídos ao pastor Silas Malafaia indicam que ele atuava como conselheiro político de Bolsonaro, inclusive com interlocução junto a aliados de Donald Trump. As conversas mostram tentativas de influenciar a atuação do STF e de pressionar por uma “anistia” que interrompesse os processos. O envolvimento de Malafaia levou Moraes a determinar apreensão de seu celular e passaporte.
Áudio de Jair Bolsonaro para Silas Malafaia escancara que sua intenção era barrar qualquer negociação de governadores bolsonaristas sobre tarifas com os Estados Unidos enquanto não houver anistia para seus crimes. pic.twitter.com/h1munod84h
— ICL Notícias (@ICLNoticias) August 20, 2025
Outro ponto destacado pela PF foi a movimentação financeira suspeita: um dia antes de depor sobre Eduardo Bolsonaro, o ex-presidente transferiu R$ 2 milhões para a conta da esposa, Michelle Bolsonaro, operação não informada à autoridade policial. Em paralelo, Eduardo usou a conta da própria mulher para movimentar valores enviados pelo pai, prática interpretada como tentativa de ocultar patrimônio e evitar bloqueios judiciais.
Diante do conjunto de provas — descumprimento reiterado de medidas cautelares, risco de fuga e obstrução das investigações — juristas ouvidos pelo DCM avaliam que já estão presentes os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, que autoriza a prisão preventiva para garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e aplicação da lei penal.
Agora, Bolsonaro terá de depor à Polícia Federal até esta sexta-feira (22), sobre a coação ao STF e a tentativa de fuga. O ministro Alexandre de Moraes deu também 48 horas para que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre o indiciamento de Bolsonaro e de seu filho Eduardo. A decisão sobre a prisão antecipada deve ser analisada ainda antes do julgamento do ex-presidente pelo Supremo.
Ouça ÍNTEGRA da troca de áudios entre Bolsonaro e Malafaia interceptada pela PF.
Conversa foi revelada nesta quarta-feira (20/8).
🎥: @SamPancher pic.twitter.com/SeQqUxlcGZ
— Metrópoles (@Metropoles) August 20, 2025