Mercadante: eleições da Câmara deixam fratura exposta na base conservadora

Atualizado em 2 de fevereiro de 2021 às 14:44
Aloizio Mercadante no DCM. Foto: Reprodução/YouTube

Em entrevista ao programa DCM Ao Meio-dia desta terça-feira (2/2), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, fez uma análise de fundo sobre os resultados das eleições para presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na última segunda-feira (1/2), o deputado Arthur Lira (PP/AL) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM/MG) foram eleitos presidentes de suas respectivas casas legislativas.

Para Mercadante, a vitória de Arthur Lira da forma que ocorreu, com a traição do DEM à candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB/SP) nas vésperas das eleições, deixa feridas, mágoas e uma fratura exposta na base conservadora e no bloco liberal. “Isso não se junta facilmente e eles não tem mais maioria para aprovar Emendas Constitucionais, o que dá para segurar um pouco daquela agenda conservadora e mesmo alguns temas que envolvam alguma PEC Emergencial ou Reforma Administrativa, tudo isso vai enfrentar muita dificuldade no plenário”, avaliou.

“Eles não foram capazes de construir um bloco sólido, a traição do DEM a um presidente da Casa, na véspera da eleição, é uma coisa muito grave, quer dizer, a política gosta de traição, mas a história não gosta dos traidores, por isso, eu acho que o ACM Neto pagará o preço por esse comportamento indecoroso, que implodiu campanha do Baleia Rossi”, prosseguiu. O ex-ministro acredita que essa conjuntura deixou espaço para a oposição fazer mais política e trazer mais gente. “Esse pessoal vai assinar CPI, você vai ver. Precisa de 172 votos para CPI, isso você tem ou está muito próximo, porque você tem algumas candidaturas avulsas”, disse.

Bolsonaro e Centrão

Para Mercadante, o resultado das eleições na Câmara dos Deputados é uma vitória do Bolsonaro, mas é muito mais uma vitória do Centrão. “O Centrão sai fortalecido e vai cobrar muito caro do governo, que vai ficar emparedado, devedor dessa maioria que foi formada. A minha visão é que vai ter um peso muito grande no orçamento, a gente sabe que foram R$ 3 bilhões, mas pode ter sido muito mais do que isso, a gente não sabe se negociou ministérios, quais foram os cargos, tem muita coisa que ainda vai vir ao longo desse processo”, explicitou.

O ex-ministro apontou a pressão que o Centrão fará sobre o orçamento como a grande dificuldade do governo Bolsonaro daqui para frente. “Eu acho que a dificuldade do Bolsonaro vai ser a seguinte: quero ver agora como vai ser a pressão sobre o orçamento. Vai gastar todos os recursos que o país não tem para pagar essa dívida que ele contraiu com os parlamentares? E não vai ter auxílio emergencial? E não vai ter vacina para todos? E não vai comprar mais vacina? Essa é a discussão que vai aparecer no dia seguinte e vai ser muito forte”, afirmou.

PT e oposição

A respeito das críticas de que o PT e os partidos de oposição deveriam ter apoiado uma candidatura única de esquerda para a presidência da Câmara , Mercadante relembrou do compromisso histórico do PT com a derrota de Bolsonaro e avaliou a composição do bloco com Baleia Rossi como única alternativa possível, em uma conjuntura política complicada e um Congresso majoritariamente conservador. “Eu vejo que foi uma política possível, não havia mais qualquer tipo de alternativa. O PT fez uma exigência, um plano mínimo, e ia lutar para que se o bloco vencesse, cumprisse, mas a correlação de força era muito difícil e a máquina do governo é muito poderosa”, rebateu.

Mercadante projeto que a oposição deve manter a unidade e tentar agir coletivamente. “Derrotar o Centrão e o Bolsonaro é a tarefa mais importante que nós temos no parlamento, o impeachment fica mais difícil, vai ter que ter muita força aqui fora na rua, na mobilização popular, na pressão popular para que tenha alguma chance de entrar na pauta e nós precisamos nos preparar para essa mobilização, que é a única forma de alterar essa correlação de forças”, explicou.

Eleições de 2022

Segundo Mercadante, as eleições no Congresso Nacional não geram muitos desdobramentos para as eleições de 2022. “Se a gente olhar para a história recente do Brasil, o Lula não tinha peso no Congresso quando foi eleito presidente, a Dilma também era minoritária, o Collor não tinha nada, Bolsonaro não tinha nada e mesmo o Fernando Henrique construiu muito mais depois que assumiu a presidência do que propriamente no período de campanha. Então, eu acho que não tem uma incidência direta sobre a eleição, mas tem sobre a conjuntura política, é um cargo muito importante principalmente para a Presidência da República, para a governabilidade”, avaliou.

Mercadante disse ainda que com esse fortalecimento, se o Centrão ficar com o Bolsonaro para 2022, ele sai com tempo de televisão e com estrutura para fazer uma campanha, ele se fortalece para ser o candidato da extrema direita, nesse campo conservador e é uma clara construção política relevante. “Precisa ver se o Centrão vai até o final, porque a popularidade dele está caindo muito e Centrão nunca segurou o caixão de ninguém e nem vai segurar o do Bolsonaro. Por isso, nós precisamos olhar essa situação ainda com um pouco de cautela”, afirmou.

Para o ex-ministro, a direita liberal foi quem sofreu uma grade derrota com a vitória de Arthur Lira. “ A direita liberal, que está um pouco entorno da candidatura do Luciano Huck, do Dória, o Moro eu acho que virou pó depois dessas fitas ,então, acabou qualquer credibilidade como juiz, ir trabalhar para a empresa que assessora a Odebrech e a OAS, ou seja, ele está fora do jogo, sofreu um golpe importante, porque a força deles no parlamento sempre foi relevante”, apontou .

Senado Federal

A respeito da vitória de Rodrigo Pacheco, Mercadante acredita que deu o previsto. “A Simone Tebet se aliou ao lavajatismo a essa coisa punitivista e foi derrotada por isso. Depois desse capítulo todo das entranhas da Lava Jato é insustentável essa pauta politicamente, a luz do dia. Eles vão continuar agindo, vão continuar denunciando, essa máquina não vai parar, mas eles saíram muito desmoralizados. É terrível aquilo ali. Como é que algum cidadão pode se defender naquelas condições do Lula? É uma aberração, o juiz comanda a articulação, diz que vai fazer ilegalidades, os comentários que são feitos, é uma coisa muito grave. Então, vejo que no Senado deu o que era esperado”, concluiu.