Mercado pune Nathalia Dill por apoiar Lula: a farsa da “neutralidade”

Atualizado em 4 de setembro de 2025 às 15:27
A atriz Nathalia Dill. Foto: Reprodução

Por Nathalí

Imagine perder um trabalho por causa de um posicionamento político.

Agora imagine esse posicionamento ainda atrapalhar sua vida profissional passados dois anos.

Foi exatamente o que aconteceu com a atriz Nathalia Dill, que já teve papéis de destaque em novelas globais. Ela foi recusada para uma publicidade porque, em 2022, postou uma foto vestida de vermelho e fazendo o L — de Lula, claro.

A equipe de marketing da empresa recusou o contrato alegando “neutralidade” de seus parceiros.

Nossa, isso é tão 2020…

Até porque, pra quem vive na mesma realidade que nós, não existe neutralidade em um país que sofreu uma tentativa de golpe. Estar “neutro” em situações assim é, na prática, escolher o lado do opressor. Mais uma vez, os bolsonaristas enrustidos me obrigam a dizer o óbvio.

Nathalia fez questão de afirmar que não foi prejudicada em trabalhos artísticos por conta de seu posicionamento. Ou seja: não é a classe artística que impede seus membros de se posicionarem politicamente, mas o medo de alguns “artistas” de perderem dinheiro e prestígio na sociedade da tal “neutralidade”.

Não existe neutralidade em um país ainda polarizado, que divide a sociedade entre progressistas e golpistas. Neutralidade é papo de conservador — porque os progressistas sabem que não há dois polos concorrendo em pé de igualdade: a disputa é entre justiça social e mediocridade.

De um lado, um político ilibado, perseguido, mas devidamente inocentado pelo Poder Judiciário — apesar de Sérgio Moro (sumido no ostracismo junto com a ideia de neutralidade política).

Do outro, um ex-militar responsável por dezenas de milhares de mortes na pandemia, hoje no banco dos réus por atentar contra a democracia.

Nathalia não revelou qual empresa exigiu “neutralidade” no país dos absurdos, mas uma coisa é certa: essa equipe de marketing não faz a menor ideia do que está fazendo e escolheu o pior momento para passar pano para bolsonaristas.

Gente como Nathalia Dill mostra que ainda há, na classe artística, algum posicionamento, alguma rebeldia, algo que resiste ao discurso oficial.

É justamente isso que nos ajuda a reconhecer os verdadeiros artistas.

Viva a coragem de Nathalia Dill.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.