
O jornalista Merval Pereira, porta-voz do grupo Globo, defendeu o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, após matéria de sua colega Malu Gaspar sobre uma suposta tentativa de interferência junto ao Banco Central em favor do Banco Master.
“É gravíssimo e isso precisa ter um limite, porque a cada revelação que aparece sobre interesses privados envolvendo decisões do Supremo perde-se a credibilidade e o Supremo vira objeto de desconfiança do cidadão”, disse Merval ao apresentador Carlos Alberto Sardenberg, velho companheiro de lavajatismo.
“Na medida em que o ministro Alexandre de Moraes não nega oficialmente, formalmente, que sua mulher recebeu mais de 30 milhões no ano, 50 milhões, sei lá, para trabalhar pelo banco do Vorcaro, que ele ligou cinco vezes e convocou o presidente do BC para um encontro pessoal, presencial, para trabalhar a favor do banco do Vorcaro, isso vira uma coisa absurda, vira uma razão de impeachment. Ele tem que se pronunciar, provar que não é verdade, tem que recusar isso de maneira veemente, porque ele perde completamente a credibilidade com a divulgação de uma história dessa”.
Segundo a coluna de Malu Gaspar, Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ao menos quatro vezes para tratar da situação do Master, de acordo com relatos feitos por seis fontes. Essas fontes relatam que três contatos ocorreram por telefone e, em pelo menos uma ocasião, houve encontro presencial para discutir os problemas da instituição controlada por Daniel Vorcaro.
Uma das fontes afirmou ter ouvido do próprio Moraes sobre a reunião com Galípolo. As demais relataram que souberam das abordagens por integrantes do Banco Central. Na versão apresentada por técnicos da autarquia, o ministro fez ligações para acompanhar o andamento da operação de venda do Master ao BRB e, em julho, solicitou um encontro presencial com o presidente do BC.
Nesse encontro, conforme relato atribuído ao próprio Moraes, o ministro teria dito que simpatizava com Vorcaro e repetido o argumento de que o Master estaria sendo alvo de resistência por ganhar espaço frente a grandes bancos. Também teria pedido que o Banco Central aprovasse a operação com o BRB, anunciada em março, mas que dependia de aval da autoridade monetária. Àquela altura, já circulava em Brasília a informação de divergências internas no BC sobre a necessidade de intervenção no banco.
Galípolo teria respondido que técnicos do Banco Central haviam identificado fraudes no repasse de R$ 12,2 bilhões em créditos do Master para o BRB. Diante disso, Moraes teria reconhecido que, caso as irregularidades se confirmassem, não haveria como autorizar o negócio. Em 18 de novembro, no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu Vorcaro e outros seis executivos, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master.
Procurados, Moraes e Galípolo não comentaram. O escritório da mulher do ministro, Viviane Barci de Moraes, mantinha contrato com o Master que previa pagamentos de R$ 3,6 milhões mensais por três anos, a partir de janeiro de 2024, totalizando cerca de R$ 130 milhões. O contrato indicava que o escritório atuaria junto ao Banco Central, Receita Federal, Cade e Congresso em defesa dos interesses do banco e de Vorcaro.
Apesar disso, informações obtidas via Lei de Acesso à Informação junto ao BC e ao Cade indicam que nenhuma dessas instituições recebeu pedidos de reuniões, petições ou documentos do escritório relacionados ao Master. Ainda assim, técnicos do Banco Central relataram a investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal que nunca haviam sofrido tamanha pressão política em favor de uma única instituição financeira.
GRAVÍSSIMO! Merval Pereira (Globonews) fala em razão para impeachment de Moraes após revelação da jornalista Malu Gaspar (O Globo) sobre a tentativa de interferência do ministro junto ao BC em favor do Banco Master. pic.twitter.com/drlILD7zVP
— Vinicius Carrion (@viniciuscfp82) December 22, 2025
Na semana passada, duas semanas após decidir que a competência para investigar o caso é do Supremo, o ministro Dias Toffoli avocou o processo, decretou sigilo total e deu prazo de 30 dias para que a Polícia Federal realize oitivas, sob acompanhamento de juízes auxiliares de seu gabinete. Técnicos do BC demonstram apreensão com a possibilidade de serem chamados a depor, temendo algum tipo de intimidação.
Em entrevista coletiva de fim de ano no Banco Central, Galípolo afirmou estar “em especial” à disposição do Supremo para prestar esclarecimentos sobre a investigação das fraudes envolvendo o Master. Disse também que todas as ações, reuniões e comunicações relacionadas ao caso foram devidamente documentadas, como forma de blindar a instituição diante das pressões. A interlocutores do governo e do mercado, Galípolo reconheceu ter sofrido pressão, mas afirmou ter contado com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para não interromper a apuração.
Ainda segundo Malu Gaspar, na sexta-feira (19), o ministro do Tribunal de Contas da União Jhonatan de Jesus determinou que o Banco Central envie esclarecimentos ao TCU sobre o processo de liquidação do Banco Master. A decisão, tomada por medida cautelar, causou estranheza entre técnicos e especialistas, já que o TCU não tem atribuição para intervir em operações entre instituições privadas do sistema financeiro.