Merval sai da casinha e apoia proposta do general Mourão para a Constituição. Por Raymundo Gomes

Atualizado em 22 de setembro de 2018 às 11:42
Merval Pereira

POR RAYMUNDO GOMES

Em meio ao desespero diante da perspectiva de mais uma vitória
eleitoral do PT, os colunistas estão surtando.
O exemplo mais recente é de Merval Pereira no Globo deste sábado (22).
Como não conseguem ganhar no voto, começam a pensar em outras
soluções.
Assim, num texto com o significativo título “Voto, modos
de usar”, Merval questiona o princípio mais básico da democracia
representativa – o de que cada eleitor e cada voto têm o mesmo peso.

Até o sistema chinês se torna merecedor de estudo, segundo Merval.
Diz ele:

“Há em discussão nos Estados Unidos maneiras de melhorar a eficácia do
voto representativo, e algumas delas já estão sendo utilizadas.
Paradoxalmente, também na China discute-se o que seria a democracia
guiada pela meritocracia. Essas buscas concentram-se no questionamento
de um dos pilares da democracia representativa, a ideia de ‘uma
pessoa, um voto’.”

É assim no Brasil. Quando o resultado do jogo não agrada, a elite
resolve mudar a regra do jogo.

E, para mudar a regra do jogo, sempre se encontra uma teoria acadêmica
como base.
Merval baseia seu artigo nas ideias polêmicas de um obscuro
professor de filosofia.
Daniel A. Bell, que é canadense, mas leciona
numa universidade chinesa, alega que a China não é mais uma ditadura,
e sim uma “meritocracia”.
A tese perigosa de Bell (que se encaixa como uma luva na propaganda da
ditadura chinesa) está sendo paradoxalmente usada por pensadores de
direita, inimigos da democracia, para “normalizar” propostas de
sistemas antidemocráticos, onde o voto popular seria substituído por
algoritmos e outros truques na escolha dos governantes.
A ideia por trás é que a elite sabe o que é melhor para o povo –
repaginando um argumento usado pelas ditaduras desde que o mundo é
mundo.
Em sua coluna, Merval chega ao ponto de debater a sério o sistema
político proposto pelo general Mourão, candidato a vice na chapa de
Bolsonaro:
“Semelhante ao que sugeriu o vice de Bolsonaro, General Mourão, de
organizar uma comissão de notáveis para fazer uma Constituição, que
depois seria referendada pelo povo. A questão, tanto lá como aqui, é
saber quem escolheria esses homens providenciais, e através de que
critérios.”
Quem sabe a Globo não possa fazer essa escolha em um sábado à tarde,
por votação popular, no Caldeirão do Huck?
Merval pode até dar a desculpa de que está apenas discutindo ideias.

Mas o simples fato de relativizar a democracia, justo neste momento,
mostra que para ele (e para o Grupo Globo, cujo conselho editorial ele
integra) a democracia não é um valor absoluto.