Mesmo após ameaça, Hugo Motta não deve punir bolsonaristas por motim; entenda

Atualizado em 7 de agosto de 2025 às 8:06
Hugo Motta abre a sessão da Câmara dos Deputados após protestos da oposição. Foto: Brenno Carvalho

Mesmo com a ameaça do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de suspender por seis meses os mandatos de deputados bolsonaristas que se recusassem a encerrar a obstrução no plenário, líderes partidários avaliam que as punições não devem ser aplicadas, conforme informações do Globo.

A avaliação é que Motta não deseja prolongar a crise depois de conseguir retomar os trabalhos da Casa, ainda que com atraso e sob tensão.

Durante reunião com representantes de quase todos os partidos — exceto PL e Novo —, entre o fim da tarde e o início da noite desta quarta-feira (6), Motta afirmou que a sessão seria iniciada às 20h30 e avisou que parlamentares que permanecessem ocupando a Mesa Diretora seriam removidos pela Polícia Legislativa e teriam seus mandatos suspensos.

A decisão foi confirmada em nota oficial da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara. “Quaisquer condutas que tenham por finalidade impedir ou obstaculizar as atividades legislativas sujeitarão os parlamentares à suspensão cautelar do mandato por até seis meses”, dizia o comunicado.

Apesar do aviso formal, a desocupação só ocorreu cerca de duas horas depois do horário marcado. Nesse tempo, integrantes da oposição seguiram negociando com lideranças da Casa. Entre eles, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), que se reuniu com Motta e com o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), exigindo que a anistia aos golpistas do 8 de Janeiro fosse colocada em votação como condição para liberar o plenário.

O vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), também participou das negociações. Ele foi o único deputado da oposição a comparecer à reunião de líderes mais cedo com Hugo Motta. Segundo relatos, ele ouviu mais do que falou.

Sem acordo, Motta decidiu abrir a sessão mesmo com o plenário ainda parcialmente ocupado. Com apoio da Polícia Legislativa e após novo apelo, os deputados bolsonaristas deixaram a Mesa Diretora, e o presidente conseguiu assumir seu lugar. Em seu discurso, pregou a pacificação e encerrou a sessão sem realizar votações.

A obstrução começou na tarde de terça-feira (5) e durou 30 horas, em reação à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que impôs prisão domiciliar a Jair Bolsonaro. Os parlamentares da oposição usaram a ocupação como forma de pressão para pautar o projeto de anistia e para exigir que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), dê andamento aos pedidos de impeachment contra Moraes.