O decreto assinado por Jair Bolsonaro facilitando a posse de armas de fogo é o cumprimento de promessa de campanha que agrada a uma classe média com sangue no olho, que acha que vai matar os bandidos no faroeste que sonha para o Brasil.
Os interessados não vão precisar mais do aval da Polícia Federal e, a partir de agora, bastará uma autodeclaração para que o direito seja concedido.
Ainda é necessário apresentar atestados de aptidão física e condições psicológicas, mas isso pode ser falsificado.
As polícias militar e civil nos Estados passam a ser responsáveis pelo registro. Imagine o poder dos corruptos dessas corporações.
Embora o texto coloque como limite quatro armamentos, está aberta a possibilidade para que o cidadão de bem tenha até seis em casa.
Essa bandeira bolsonarista é antiga e os garotos de Jair também são apaixonados por um cano fumegante.
Eduardo postou um vídeo patético praticando tiro ao alvo.
“Não existe preparo para um tiroteio, existe treinar para reduzir os riscos”, escreveu na legenda. O melhor testemunho sobre a estupidez dessa obsessão vem do próprio Jair, numa notícia que volta e meia reaparece.
Foi veiculada no dia 5 de julho de 1995 na falecida Tribuna da Imprensa, do Rio.
O então deputado federal foi assaltado por dois criminosos que acabaram levando sua motocicleta e a pistola Glock calibre 380 que carregava debaixo da jaqueta.
Eles eram jovens e aparentavam ser de classe média, contou.
“Mesmo armado me senti indefeso”, declarou Bolsonaro.
Filosoficamente, talvez tenha sido o melhor momento do capitão, um testemunho sobre a inutilidade da violência.
Claro que foi um lapso (“fazer-se de idiota será sempre uma função da filosofia”, escreveu Gilles Deleuze).
Num Roda Viva do ano passado, ele lembrou do caso.
“Dois dias depois, juntamente com o 9º Batalhão da Polícia Militar, nós recuperamos a arma e a motocicleta e por coincidência — não é? — o dono da favela lá de Acari, onde foi pega… foi pego lá, lá estava lá, ele apareceu morto, um tempo depois, rápido.”
Continuou: “Não matei ninguém, não fui atrás de ninguém, mas aconteceu”.
Esse é o bangue bangue que Jair está instaurando no país.
Ser covarde tendo costas quentes e amigos policiais (como o Queiroz) ou milicianos é moleza.