Metanol: bar nos Jardins mata em nome do lucro. Por Nathalí

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 11:45
Fachada do bar Ministrão, nos Jardins, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Confesso que me enganei ao assumir que os ricos não se importam com “dinheiro pouco”.

“Duzentos mil é uma bolsa dessa milionária, ela não se daria ao trabalho de se desgastar com isso”, eu disse certa vez — e não poderia estar mais equivocada.

Para se ter uma ideia: em São Paulo, no coração nobre do bairro Jardins, o dono do restaurante Ministrão teve o estabelecimento fechado pela vigilância sanitária. O motivo? Foi flagrado comprando bebida adulterada de vendedor ambulante para revender no restaurante com preço superfaturado.

E ele não foi o único: outros estabelecimentos estão sendo fiscalizados e interditados, mas a população de São Paulo não teve acesso sequer à lista desses estabelecimentos – e agora, sair pra tomar um drink pode ser fatal.

Pelo menos 22 pessoas podem ter sido vítimas dos restaurantes: 5 casos já foram confirmados e outros 17 ainda estão no “vai que não é”.

Mesmo em pequenas quantidades, o metanol pode causar cegueira e até morte. Não é próprio para consumo humano — trata-se de um “tipo de álcool” altamente perigoso.

E, assim, mata-se em nome do lucro. E ele não é exceção: é apenas um sintoma do capitalismo tardio, onde qualquer valor ético é triturado pela lógica do dinheiro.

Fachada do Bar Ministrão, interditado após ação da Polícia Civil. Foto: reprodução

E isso ainda não é tudo: como disse Guilherme Boulos em vídeo postado em suas redes sociais, o governo é obrigado a divulgar a lista dos restaurantes que devem ser evitados – para preservar a própria vida da população, sua obrigação primeira.

Com isso, Boulos protocolou o pedido de divulgação da lista junto à Secretaria de Segurança Pública e conclamou a população a ajudá-lo nessa missão de ensinar ao governador como governar.

Governador Tarcísio, o senhor certamente sabe que isso vai de encontro a um princípio da administração pública chamado princípio da transparência. O senhor sabe que é a sua função proteger a população de risco de vida.

Como sempre, o poder público protege os empresários e a última coisa com a qual se importa é com o bem estar de seus administrados – o que, infelizmente, não é novidade.

Ao menos a gente pode contar com Boulos, e com a população que certamente dará força a este pedido, ou ao menos é o que esperamos.

Então, senhor governador, não lhe resta nada a não ser fazer sua obrigação: cumprir o princípio constitucional da transparência.

Ou isso, ou o governo, ao menos segundo a lei, torna-se por si mesmo inconstitucional, e aí o único jeito é questionar o próprio governo a fazer o seu trabalho.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.