
A presença de metanol em bebidas alcoólicas causou grande preocupação às autoridades no Brasil após uma operação da Polícia Civil em São Paulo, que investiga a falsificação de destilados. Ao menos 37 pessoas foram contaminadas pela substância, seis delas morreram. Mas afinal, como o metanol pode aparecer na bebida e por que isso interessa ao mercado ilegal?
O que é o metanol e como ele contamina bebidas
O metanol é um produto químico industrial usado em fluidos anticongelantes e limpadores de para-brisa. Não é destinado ao consumo humano e é altamente tóxico. Ele pode aparecer em pequenas quantidades em fermentados como cerveja e vinho, mas em níveis seguros.
O risco surge em bebidas destiladas, quando há falhas no processo ou adulteração intencional para aumentar o volume do produto.
A Organização Mundial da Saúde alerta que esse tipo de adulteração é comum em produções informais em diversos países. Muitas vezes, essas bebidas chegam até mesmo a bares legítimos, embaladas em garrafas falsificadas.
Um mercado bilionário e pouco fiscalizado
O mercado ilegal de bebidas alcoólicas movimentou R$ 56,9 bilhões no Brasil em 2023, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O crescimento foi de 224% em relação a 2017, e a sonegação fiscal no setor ultrapassou R$ 28 bilhões no último ano.

O FBSP classifica a atividade ilícita em quatro tipos: falsificação, contrabando, produção artesanal irregular e sonegação fiscal. Entre as práticas mais comuns está o chamado refil, quando garrafas legítimas são reutilizadas para armazenar bebidas adulteradas. Em 2023, foram apreendidas 1,3 milhão de unidades desse tipo.
“Isso pode resultar em preços mais baixos para o consumidor, uma vez que esses produtos escapam de tributos e regulamentações, mas também significa maior risco de adquirir bebidas de qualidade duvidosa, sem controle sanitário ou garantia de segurança”, afirma o relatório.
“Com a falta de fiscalização para coibir esse tipo de atividade, a falsificação vai se aperfeiçoando, a ponto de haver produtos idênticos”, diz Enio Miranda, diretor de planejamento estratégico da Fhoresp.
Envolvimento do crime organizado
Apesar das especulações, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que “não há evidências do envolvimento do PCC na adulteração de bebidas alcoólicas”. A Polícia Federal (PF), no entanto, abriu inquérito para investigar, considerando a possibilidade de distribuição para outros estados.
Relatório do FBSP mostra que facções como PCC e Comando Vermelho atuam no comércio ilegal de bebidas, diversificando suas fontes de lucro. Vinho contrabandeado entra pelo Rio Grande do Sul, enquanto destilados chegam pelo Paraguai. No Rio de Janeiro, milícias também exploram esse mercado.
Quem fiscaliza?
A responsabilidade é compartilhada. A Anvisa define padrões sanitários, enquanto a Polícia Federal e a Receita combatem contrabando e crime organizado. Polícias civis, militares e guardas municipais também podem atuar no desmonte da produção clandestina.
A soma desses fatores — alto lucro, baixa fiscalização e participação de organizações criminosas — explica por que o metanol acaba aparecendo em bebidas no Brasil e como isso continua sendo um risco grave à saúde pública.
Com informações da BBC News.