Meu conselho para Joice na treta com Reinaldo Azevedo. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 22 de fevereiro de 2017 às 13:45

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A direita brasileira costuma confundir debates políticos construtivos com baixaria – talvez por não fazer ideia de como promover debates políticos construtivos.

O barraco, dessa vez, foi entre Reinaldo Azevedo e Joice Hasselmann.

Começou quando a moça – ex-apresentadora da TVeja – criticou o que ela mesma chamou de “flexibilização no discurso de Reinaldo Azevedo”.

A autoestima de Joice, pelo menos, parece estar em dias: no vídeo em que insinua que o colega teria traído a direita, ela se coloca como ícone do movimento democrático (?) dos batedores de panelas – embora, na atual conjuntura, orgulhar-se de ter vestido a camisa da seleção e feito papel de imbecil útil seja risível, no mínimo.

Reinaldo, quem diria, tem sido um pouco mais esperto: engrossou o caldo da coxinhada e agora, sem nenhum constrangimento, diante da patifaria que se mostrou o governo Temer, tira sutilmente o corpo fora, enquanto Joice insiste na romantização patética da “luta por um país decente”: “Lula na cadeia, viva a lava a jato!”

É de quase dar pena.

Ambos, quero dizer, têm discursos igualmente asquerosos, a não ser pelo fato de que, ao contrário de Joice, Reinaldo é asqueroso com alguma elegância enjoativa e forçada.

A direita está se esfolando – fruto podre cai sozinho, dizem – e eu não posso negar (ninguém acreditaria) que é ótimo assistir ao barraco. O que não é nem um pouco ótimo é ver que homens como Azevedo continuam argumentando com mulheres da maneira como o patriarcado sempre argumentou: rebaixando-as.

Reinaldo, que esteve ao lado de Joice diversas vezes nessa mesma TV, rebateu as críticas da ex-colega encarnando muito bem o personagem de homem branco e velho de direita: com um arsenal de clichês machistas que dão vergonha de tão vazios.

No vídeo de resposta aos insultos da ex-colega, que dura mais de vinte e quatro minutos (está faltando trabalho pro pessoal da Veja?), ele se refere a Joice incontáveis vezes como “maluca” e “doida”, em um tom de superioridade comumente usado pelos homens para desqualificar suas oponentes – um jeito meio batido de ser machista. O machismo da direita, aliás, precisa se reciclar – está tão cafona quanto a camisa usada por Azevedo no vídeo em questão.

O fato é que, afora a vergonha alheia diante dessa briga tão xucra quanto a direita de Joice e Reinaldo, o discurso dele é sintomático. Consiste basicamente em dar à oponente o lugar de bibelô, a coadjuvante, a burra, a mulher bonita que só sabe fazer charme – machistas geralmente são bons nisso – para colocá-la no terreno do ridículo, o qual ela de fato ocupa, mas onde disputa espaço a tapas com o próprio Reinaldo (acalmem-se, queridos, há o ridículo pra todo mundo!).

A ideia de Reinaldo, tão orgulhoso da própria originalidade, é, na verdade, a mesma de sempre: em vez argumentar com uma mulher, faça parecer que não vale a pena argumentar com uma mulher. Torne-a ridícula.

Desde sempre, como constatou Beauvoir, o homem é o Sujeito e a mulher é o Outro, e, no que depender da direita, continuará sendo.

A misoginia que Reinaldo Azevedo disfarça mal fica muitíssimo evidente, não só quando ele chama-a de doida, maluca, burra, ignorante e loira do banheiro (não consigo escrever isso sem rir), mas também quando pergunta quem paga as contas da ex-colega ou quando diz que “dormir com as pessoas não nos torna inteligentes”. (Nota: citar Machado de Assis também não).

Digo com algum lamento pelos insultos, Joice, e com a limitada sororidade que sou capaz de oferecer a uma mulher de extrema-direita como você, que é isso o que as mulheres encontram na direita brasileira (que o digam Patrícia Lélis, vítima de Feliciano, e tantas outras): um machismo óbvio, escrachado, estúpido.

Você teve da direita o que mereceu por se juntar a ela, teve as únicas coisas que este antro de ódio e ignorância pode te oferecer: misoginia, insultos, ofensas e silenciamento.

A diferença entre os machismos em cada posicionamento político é, aliás, nítida: Temos a extrema-direita do machismo escancarado e grosseiro (Frota, Bolsonaro e similares), a direita do machismo elegante, mas igualmente escancarado (Reinaldo Azevedo, Luiz Felipe Pondé), e a esquerda do machismo velado.

Em qualquer posição política, perceba, as mulheres precisam se levantar, mas é só olhar para a extrema-direita que você enxerga como “sua turma” – Bolsonaro, Aécio, Frota, Cunha, Temer e similares – pra notar que você está no pior lugar possível – um lugar em que um homem posa ao seu lado quando lhe é conveniente e te insulta na primeira oportunidade.

Querida, espero que você processe Reinaldo Azevedo.

Processe mesmo.

Mas antes reveja os ombros nos quais você tem dado tapinhas e os homens ao lado dos quais tem tido orgulho de caminhar – porque, sinto muito: é disso pra pior.