Meu encontro com Dallagnol em Curitiba. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 29 de maio de 2017 às 14:43

Existem pelo menos 2.827 restaurantes em Curitiba, região metropolitana e litoral paranaense, segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da capital paranaense, mas foi em um deles que encontrei, no dia 9 de maio, o procurador da república Deltan Dallagnol.

Foi o encontro da fome com a refeição.

Eu queria entrevistar um procurador da Lava Jato, para falar a respeito do depoimento que o ex-presidente Lula daria no dia seguinte ao juiz Sérgio Moro. E estava ali, a duas mesas de distância, o coordenador da Força Tarefa.

Dallagnol estava acompanhado de mais quatro pessoas e, quando passei por eles, ouvi que falavam em inglês. Um de seus acompanhantes segurava uma câmera e, por isso, imagino que se tratava da equipe da CBS que veio ao Brasil para gravar um documentário sobre a Lava Jato, aquele em que Moro se compara a Eliot Ness.

Esperei que terminassem o almoço para fazer o que cabe a todo repórter: solicitar entrevista. Dallagnol se levantou e, até chegar a minha mesa, foi parado pelos clientes das outras duas. Tirou fotos, ouviu palavras de apoio e, quando chegou à minha mesa, me levantei e disse:

— Dr. Dallagnol, sou jornalista e gostaria de entrevistá-lo.

Bastante educado, ele disse que eu teria que fazer a solicitação à assessoria de imprensa do Ministério Público Federal.

Vi que ele não queria falar ali e pedi então ao jornalista e documentarista Max Alvin, que me acompanhava, que fizesse uma foto minha com Dallagnol – a rigor, queria documentar aquele encontro e, mais tarde, se se alegasse que eu fiz referência ao Ministério Público Federal sem ouvir os procuradores, eu pudesse demonstrar que tentei.

Durante a foto, um sorridente Dallagnol me perguntou:

— De que veículo você é?

— Diário do Centro do Mundo – respondi.

Pelas fotos, uma na sequência da outra, você pode ver que ele fechou a cara.

 

ANTES
DEPOIS

 

Dallagnol saiu do restaurante com seus convidados que falam inglês, eu sentei e Max riu muito.

— Você precisa ver a cara que ele fez quando você disse que era do Diário do Centro do Mundo — disse.

Parecia aquela capa do disco que mostra Chico Buarque alegre e o Chico Buarque triste

— Se fosse você, faria uma crônica – sugeriu ele.

Uma crônica não, mas creio que devo contar aos leitores do DCM.

Até hoje aguardo entrevista solicitada.

Alguns meses antes desse encontro, eu publiquei uma reportagem – e ouvi Dallagnol numa entrevista por e-mail – que mostrava que ele havia especulado com dois apartamentos do Minha Casa, Minha Vida.

Não era nada ilegal, mas incômodo e talvez antiético para quem se apresenta como um cruzado pela moralidade pública.

Coincidências existem?