‘Meu pai, Salim Miguel, era adepto do comunismo, segundo sua ficha no SNI’. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 8 de março de 2021 às 0:09

Publicado originalmente no perfil do autor

Por Luis Felipe Miguel

Salim Miguel, pai de Luis Felipe Miguel – Foto: Edu Cavalcanti/Arquivo/ND

Outro dia recebi uma cópia da ficha do meu pai na agência de Curitiba do SNI. Ele já estava morando no Rio, mas a ficha é fruto de informantes catarinenses.

Começa assim: “Salim Miguel é elemento adepto do comunismo”. Acredito que esse “elemento”, enfiado no meio da frase, é para comprovar que a ficha foi mesmo escrita por um polícia.

Tem um monte de informações públicas, todas encimadas por um carimbo de “secreto”, e também vários erros. Boa parte do material trata de tentativas para demiti-lo da Agência Nacional (antecessora da EBC). Por isso se batem várias figuras, em especial o general Álvaro Veiga Lima.

Um telegrama de Golbery, endereçado a Lima, nega a demissão, já que “Adonias é de opinião de que pode controlar perfeitamente o problema”. A pressão pela demissão volta, no entanto, depois do AI-5.

O citado por Golbery é o escritor baiano Adonias Filho, então chefe da Agência, um daqueles que apoiaram a ditadura mas achavam que podiam minimizar suas consequências. Salim sempre foi grato a ele.

A ficha faz breves perfis de pessoas com quem Salim conversava em Florianópolis. De um deles, se diz: “O sr. Tancredo é de indumentária e corte de cabelo ‘pra frente’”.