
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro transformou a avenida Paulista em palanque político neste 7 de Setembro. Em lágrimas, afirmou que Jair Bolsonaro “não vai desistir”, ignorando o fato de que o marido está inelegível até 2030 por abuso de poder e uso indevido da máquina pública. O ato, marcado por pedidos de anistia a golpistas e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), reforçou a estratégia de vitimização que mantém a base bolsonarista mobilizada.
Michelle buscou se apresentar como cuidadora e guardiã de Bolsonaro, mas seu discurso foi além do emocional. Ela acusou ministros do STF de agirem como “tiranos” e descreveu o Brasil como vivendo sob uma “ditadura judicial”. Ao ecoar narrativas sem provas sobre perseguição política e supostos maus-tratos a presos do 8 de janeiro, a ex-primeira-dama repetiu a retórica de deslegitimação das instituições.
O momento não é apenas de apoio pessoal: Michelle também ensaia seu papel como peça-chave no tabuleiro eleitoral de 2026. A direita discute se ela deve ser vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou até mesmo cabeça de chapa presidencial. Em ambos os cenários, seu sobrenome e apelo religioso são vistos como trunfos para manter vivo o capital político do bolsonarismo.

Imagem: Adriana Negreiros/UOL
Aos prantos, Michelle disse que Bolsonaro é “o maior líder da direita do país”. A frase serve como recado aos aliados que flertam com alternativas, mas ignora que o ex-presidente se tornou inelegível justamente por atentar contra a democracia. O discurso reforça o paradoxo do bolsonarismo: proclamar defesa da liberdade enquanto prega anistia para quem tentou derrubar o Estado de Direito.
O ato também escancarou a fragilidade do campo bolsonarista. Sem Bolsonaro em cima do trio elétrico, coube à esposa segurar o microfone e encarnar o papel de líder resistente. A encenação de lágrimas e fé reforça o apelo emocional da narrativa, mas não altera o fato de que a Justiça avança contra o ex-presidente. A aposta no vitimismo pode mobilizar seguidores, mas não reescreve os crimes cometidos.
🚨URGENTE – Michelle Bolsonaro se emociona em manifestação pela anistia
“Eu nunca pensei que seria tão difícil estar aqui hoje com vocês” pic.twitter.com/oWA4W4GxIy
— SPACE LIBERDADE (@NewsLiberdade) September 7, 2025
A presença de Michelle na Paulista, incerta até a véspera, acabou se tornando símbolo do esforço de manter o bolsonarismo vivo mesmo sem Bolsonaro. O problema é que esse projeto depende cada vez mais de negar a realidade e de confrontar instituições, em vez de oferecer alternativas concretas ao país. O 7 de Setembro bolsonarista foi, mais uma vez, menos sobre independência e mais sobre a tentativa de blindar um líder condenado.