A primeira-dama Michelle Bolsonaro – também conhecida como Micheque, não nos deixemos esquecer – tem se prestado a outros papéis macabros além de se deitar com o marido Jair.
Embora não houvesse qualquer necessidade, Michelle se envolveu recentemente na medonha história de Daniela Pérez, filha da roteirista global Glória Pérez, assassinada pelo então colega de elenco e par romântico Guilherme de Pádua em 1992, época das gravações da novela Corpo e Alma.
Daniella foi morta em um crime premeditado por Guilherme e sua então esposa, Paula Thomaz.
Apunhalada por inveja – depois confessada pelos assassinos – ela tornou-se vítima de um crime brutal que ainda desperta um tipo peculiar de interesse no público: 30 anos depois, embarcando nesse interesse com um quê de sinistro, Glória Pérez lançou uma série contando a história da filha.
E Michelle, ao que parece, não encontrou modo menos tenebroso de chamar a atenção.
Ela foi fotografada em um jantar intimista ao lado de Juliana Lacerda, atual esposa de Guilherme, que também tentou pegar carona no sucesso da série ao surgir pedindo desculpas há poucos dias da estreia.
A primeira-dama aparece sorrindo ao lado de Juliana.
Só em um país com parte de seu povo – a elite e a parcela mais burra da classe média – tão sanguinária é que uma primeira-dama pode ter tanta autoconfiança para posar ao lado da esposa de um assassino.
Se não bastasse, Michelle Bolsonaro comentou, poucos dias depois, uma foto de Glória Pérez no Instagram, em que a novelista homenageava a filha no dia em que ela completaria 52 anos.
O conteúdo do comentário – um emoji de choro – foi interpretado como hipocrisia pela maioria dos seguidores.
Eu chamaria de escárnio: um escárnio tão cruel quanto ser casada com Bolsonaro. Essa gente não se contenta em não ter escrúpulos: é preciso promover um certo culto à morte enquanto oram ao Deus de Feliciano.
Não à toa, o assassino é pastor.
É com esse tipo de cristão que Michelle Bolsonaro posa e sorri: cristãos que cultuam a morte e depois saem pra jantar.
E é com esse tipo de gente que ela combina – uma mulher que, sendo primeira-dama do país, deixou que a avó vivesse em uma pocilga dominada pela violência e pelo tráfico.
A mulher era cardíaca, sofria de mal de Parkinson, e vivia na Favela Sol Nascente, em Brasília, muito perto do Palácio do Planalto, onde nunca pisou.
Ninguém sabia que a pobre velha era avó da primeira-dama até a Veja revelar. Aposentada, ela cuidava de um filho com deficiência auditiva e não recebia qualquer ajuda de Michelle.
Naturalmente, gente assim posaria com assassinos e casaria com Bolsonaros.
Vejam: não digo que um assassino não possa se arrepender.
Mas qual a necessidade de espezinhar a dor de uma mãe que perdeu sua filha em um crime brutal? Por que declarar-se pública e simbolicamente ao lado dos assassinos enquanto trata o luto alheio com sarcasmo óbvio?
A hipocrisia de Michelle Bolsonaro diante de uma tragédia e a sua crueldade com a avó combinam com o governo necropolítico de seu marido – embora esteja perto do fim, o Brasil não esquecerá que o governo Bolsonaro foi o governo da morte.
No sistema político f*dido em que vivemos – somado à velha cultura patriarcal – o que uma primeira-dama faz deve ser conivente com a vida pública, os posicionamentos e o alinhamento ideológico de seu marido.
O apreço à morte é algo que se pode observar em comum entre ambos: o escárnio de Michelle Bolsonaro para com a dor de Glória Pérez – uma mãe com o coração despedaçado – combina com o escárnio de Bolsonaro por cada brasileiro.